Economia e Vida

É a partir da organização popular e da criação de meios de geração de renda que será possível reerguer muitos que estão caídos e sem esperança.

Este é o tema da Campanha da Fraternidade (CF) 2010. Em sua quadragésima sexta edição, esta CF será ecumênica como as dos anos 2000 e 2005. É uma oportunidade de manifestar a unidade dos cristãos quando o assunto é a caridade e o comprometimento com a situação do nosso povo.

O Lema da CF: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24c) é muito inspirador. Com ele tocamos a raiz de muitos males da humanidade: a idolatria do dinheiro. Certamente muitos se sentirão incomodados diante da abordagem da CF. Mas, no fundo, percebemos que é tempo de tocar, sim, nesse assunto tão polêmico e, na esteira da última Encíclica de Bento XVI – Caritas in Veritate - assumir a nossa identidade cristã, colocando Deus como Senhor de nossas vidas.

Falar de economia não é algo tão complicado como muitos imaginam. Na verdade, a economia toca a nossa existência. Em seu sentido original economia significa o cuidado, a administração da casa (oikos em grego).

O que podemos ver em nossa sociedade é uma completa inversão de valores. Aquilo que deveria ser gerido para o cuidado com a sobrevivência das pessoas, principalmente dos mais simples e humildes, tornou-se objeto de especulação. Na economia de mercado, o dinheiro tornou-se fonte de dinheiro. Isso, até os mais simples repetem com frequência: “Ganha dinheiro quem tem dinheiro!” O capital virou instrumento de especulação. Usa-se o dinheiro ou títulos de empresas para especulação. Boatos de bom ou mau desempenho de setores do mercado são motivo para ganhar dinheiro. O resultado nós conhecemos bem: uma crise econômica que assolou o mundo em 2008 e 2009, tendo como consequência mais dura o sofrimento dos mais pobres, a acentuação da miséria.

Sem dúvida não é esse o “cuidado da casa” que Deus quer. Ao contemplar a Palavra de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, veremos que o desejo de Deus para a humanidade é que tenham vida digna e, nos casos em que esta é ameaçada, Deus recomenda um cuidado especial com os mais frágeis, no mundo bíblico, o estrangeiro, o órfão e a viúva.

No Brasil de hoje, faz-se necessário, pois, arregaçar as mangas para que o cuidado com os mais pobres seja realmente eficaz. Sem dúvida, nos últimos anos, houve uma diminuição das diferenças sociais no país e uma redução nos índices de miséria. Mas não podemos ficar por aí. Retomando mais uma vez a percepção e a sabedoria popular, podemos dizer que “é preciso dar o peixe, mas também ensinar a pescar”. Este ensinar, hoje, supõe o incentivo de práticas de economia solidária. É a partir da organização popular e da criação de meios de geração de renda que será possível reerguer muitos que estão caídos e sem esperança. Nossa gente é criativa e cheia de vida. Basta um empurrãozinho para acertar o caminho.

Temos esperança de que, neste ano de 2010, a partir mesmo da reflexão do tema Economia e Vida, poderão surgir iniciativas novas de geração de renda, de uma nova economia, pautada não na ambição de lucro desmedido, mas na defesa da vida.

Nosso jornal tem assumido esse compromisso de encorajar e propor novas alternativas. Convidamos em especial os nossos leitores a lerem o livro de Murilo Carneiro: Economia Solidária, bem como a acompanhar nossos Cadernos de Cidadania. Neles, encontrarão dicas e partilhas de experiência muito interessantes e profundas. É a hora da solidariedade. É a hora de acreditar que uma outra economia e outro mundo são possíveis!

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