Os 5 Mandamentos da Igreja

Cristo deu poderes à Sua Igreja a fim de estabelecer normas para a salvação da humanidade. Ele disse aos Apóstolos: "Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou" (Lc 10,16). E prossegue: “Em verdade, tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra, será também desligado no céu.” (Mt 18,18)

Então, a Igreja legisla com o "poder de Cristo", e quem não a obedece, não obedece a Cristo, e conseqüentemente a Deus Pai.

De modo que para a salvação do povo de Deus, a Igreja estabeleceu cinco obrigações que todo católico tem de cumprir, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC). Este ensina: "Os mandamentos da Igreja situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida litúrgica e que dela se alimenta. O caráter obrigatório dessas leis positivas promulgadas pelas autoridades pastorais tem como fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável no espírito de oração e no esforço moral, no crescimento do amor de Deus e do próximo." (§2041)

Note que o Catecismo diz que isso é o "mínimo indispensável" para o crescimento na vida espiritual dos fiéis. Podemos e devemos fazer muito mais, pois isso é apenas o mínimo obrigado pela Igreja. Ela sabe que, como Mãe, tem filhos de todos os tipos e condições, portanto, fixa, sabiamente, apenas o mínimo necessário, deixando que cada um, conforme a sua realidade, faça mais. E devemos fazer mais.

1 – Participar da missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho
Ordena aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor, e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da santíssima Virgem Maria e dos santos, em primeiro lugar participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e se abstendo de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias (Código de Direito Canônico-CDC , cân. 1246-1248) (§2042).

Os Dias Santos – com obrigação de participar da missa, são esses, conforme o Catecismo: “Devem ser guardados [além dos domingos] o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania (domingo no Brasil), da Ascensão (domingo) e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro), de sua Imaculada Conceição (8 de dezembro) e Assunção (domingo), de São José (19 de março), dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo (domingo), e por fim, de Todos os Santos (domingo)” (CDC, cân. 1246,1; n. 2043 após nota 252) (§2177).

2 - Confessar-se ao menos uma vez por ano
Assegura a preparação para a Eucaristia pela recepção do Sacramento da Reconciliação, que continua a obra de conversão e perdão do Batismo (CDC, cân. 989). É claro que é pouco se confessar uma vez ao ano, seria bom que cada um se confessasse ao menos uma vez por mês, pois fica mais fácil de se recordar dos pecados e de ter a graça para vencê-los.

3 - Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da ressurreição
(O período pascal vai da Páscoa até festa da Ascenção) e garante um mínimo na recepção do Corpo e do Sangue do Senhor em ligação com as festas pascais, origem e centro da Liturgia cristã (CDC, cân. 920).

Também é muito pouco comungar ao menos uma vez ao ano. A Igreja recomenda (não obriga) a comunhão diária.

4 - Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja
(No Brasil isso deve ser feito na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa). Este jejum consiste em um leve café da manhã, um almoço leve e um lanche também leve à tarde, sem mais nada no meio do dia, nem o cafezinho. Quem desejar, pode fazer um jejum mais rigoroso; o obrigatório é o mínimo. Os que já tem mais de sessenta anos estão dispensados da obrigatoriedade, mas podem fazê-lo se desejarem.

Diz o Catecismo que o jejum "Determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração (CDC, cân. 882)".

5 - Ajudar a Igreja em suas necessidades
Recorda aos fiéis que devem ir ao encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades (CDC, cân. 222). Não é obrigatório que o dízimo seja de 10% do salário, nem o Catecismo nem o Código de Direito Canônico obrigam esta porcentagem, mas é bom e bonito se assim o for. O importante é, como disse São Paulo, dar com alegria, pois “Deus ama aquele que dá com alegria” (cf. 2Cor 9, 7). Esta ajuda às necessidades da Igreja pode ser dada uma parte na paróquia e em outras obras da Igreja.

Nota: Conforme preceitua o Código de Direito Canônico, as Conferências Episcopais de cada país podem estabelecer outros preceitos eclesiásticos para o seu território (CDC, cân. 455) (§2043).

Por: Felipe Aquino

5 coisas que deve saber sobre a Quaresma

 
A Quaresma é um tempo litúrgico em que por 40 dias a Igreja chama os fiéis à penitência e à conversão, para se preparar verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo na Semana Santa.
Aqui estão cinco pontos que todo católico deve saber sobre a Quaresma:

1. Oração, mortificação e caridade: as três práticas quaresmais
A oração é uma condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, o cristão entra em diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, como Maria, abre-se para a oração do Espírito cooperando com ela em sua resposta livre e generosa (ver Lc 1,38).
A mortificação se realiza cotidianamente e sem a necessidade de fazer grandes sacrifícios. Com ela, são oferecidos a Cristo aqueles momentos que geram desânimo no transcorrer do dia e se aceita com humildade, gozo e alegria, todas as diversidades que chegam.
Da mesma forma, saber renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e desprendimento. Dentro dessa prática quaresmal, estão o jejum e a abstinência que serão explicados mais adiante.
A caridade é necessária como refere São Leão Magno: “Se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados”.
Sobre esta prática, São João Paulo II explica que este chamado a dar “está enraizado no mais profundo do coração humano: toda pessoa sente o desejo de colocar-se em contato com os outros e se realiza plenamente quando se dá livremente aos demais”.

2. O jejum e a abstinência
O jejum consiste em fazer uma refeição forte por dia, enquanto a abstinência consiste em não comer carne. Com ambos os sacrifícios, reconhecemos a necessidade de fazer obras para reparar o dano causado por nossos pecados e para o bem da Igreja.
Além disso, de forma voluntária, deixam-se de lado necessidades terrenas e se redescobre a necessidade da vida do céu. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4).
O jejum não proíbe de tomar um pouco de alimento na parte da manhã e à noite. É obrigatório dos 18 aos 59 anos.
Por outro lado, a abstinência, embora proíba o consumo de carne, não é o caso de ovos, leite e qualquer condimento feito a partir de gorduras animais. O jejum é obrigatório a partir de 14 anos de idade.

3. A Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa
Na Quarta-feira de Cinzas começam os 40 dias de preparação para a Páscoa. Após a Missa, o sacerdote abençoa e impõe as cinzas feitas de ramos de oliveira abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estas são impostas fazendo o sinal da cruz na testa e dizendo as palavras bíblicas: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Desta forma, a cinza é um sinal de humildade e recorda ao cristão sua origem e seu fim.
A Quaresma termina na Quinta-feira Santa. Nesse dia, a Igreja recorda a Última Ceia do Senhor, quando Jesus de Nazaré compartilhou a refeição pela última vez com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.

4. A duração da Quaresma está baseada na simbologia do número 40 na Bíblia
Os 40 dias da Quaresma representam o mesmo número de dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias da marcha do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e Elias na montanha e os 400 anos que durou a estadia dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provas e dificuldades.

5. Na Quaresma, a cor litúrgica é o roxo
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, penitência, conversão espiritual; tempo para preparar o mistério pascal.

Por ACI Digital

Papa convoca Dia de Jejum e Oração pela Paz para 23/2


“As vitórias obtidas com a violência são falsas vitórias”. Diante da continuação de inúmeros conflitos em diversas partes do mundo, o Papa Francisco no Angelus do último domingo voltou a condenar a violência e convocou um Dia de Jejum e Oração pela Paz:

“E agora um anúncio: diante da trágica continuação de situações de conflito em diversas partes do mundo, convido todos os fiéis a um Dia especial de Oração e Jejum pela Paz em 23 de fevereiro próximo, sexta-feira da Primeira Semana da Quaresma”.

“O ofereceremos em particular pelas populações da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul. Como em outras ocasiões similares, convido também os irmãos e irmãs não católicos e não cristãos para se associarem a esta iniciativa nas modalidades que considerarem mais oportunas, mas todos juntos”.

O Santo Padre recordou que “o nosso Pai Celeste escuta sempre os seus filhos que gritam a Ele na dor e na angústia, “cura os corações feridos e enfaixa suas feridas””.

O Pontífice dirigiu um apelo, para que também cada um de nós ouça este grito e que cada um, diante de Deus, pergunte na própria consciência: “O que eu posso fazer pela paz?”:“Certamente podemos rezar; mas não só. Cada um pode dizer concretamente ‘não’ à violência naquilo que depender dele ou dela. Porque as vitórias obtidas com a violência são falsas vitórias; enquanto trabalhar pela paz faz bem a todos.

Por CNBB, com Vatican News

5 conselhos práticos para uma boa oração com a Bíblia


Foto referencial / Crédito: Pixabay (Domínio Público) _180216
LOS ANGELES, 19 Fev. 18 / 04:00 pm (ACI).- Em sua coluna semanal, Dom José Gómez, Arcebispo de Los Angeles (Estados Unidos), falou a respeito da importância de poder conversar com Deus através da oração e indicou que um método perfeito é a “Lectio divina”.
“A Lectio divina transforma a nossa leitura das Escrituras em uma audiência privada com o Deus vivo que nos busca com amor e nos fala através das páginas dos textos sagrados... Se a oração é conversa, então temos que escutar Deus tanto quanto falamos com ele. ‘Ao ler a Bíblia, Deus fala contigo’, disse Santo Agostinho. ‘Ao rezar você fala com Deus’”, assinalou.
Deste modo, o Prelado deu estes cinco conselhos para meditar com uma passagem bíblica, de preferência o Evangelho do dia:

1. Procurar um lugar tranquilo
Antes de ler as Sagradas Escrituras, é necessário colocar-se na presença de Deus. Portanto, o Prelado recomenda procurar um lugar tranquilo, onde ninguém interrompa, e apagar todas as suas “telas”, computador, celular, televisão, para poder estar no mínimo 15 minutos “a sós com o Senhor”.
Depois, “peçam que o seu Espírito Santo abra os seus corações. Peçam a nossa Mãe Santíssima que os ajude a refletir em seu coração nos mistérios de Cristo, como Ela fez”.

2. Deter-se nos detalhes
Depois de terminar a oração, “comecem a ler devagar o texto do Evangelho do dia. Leiam várias vezes. E, conforme leem, fiquem atentos aos detalhes. O que está acontecendo? Quem são os personagens principais? Meditem nas palavras ou frases que chamam a sua atenção. Prestem uma atenção especial no que Jesus está dizendo e fazendo”.
Do mesmo modo, Dom Gómez assinalou que é preciso recordar que não se deve ler a Bíblia como se estivesse lendo qualquer outro livro. “Trata-se de um encontro com o Deus vivo. Jesus vive nos textos sagrados. Deus está conversando com vocês, pessoalmente”.

3. Meditar sobre a leitura
Depois de identificar a passagem que lhes chamou a atenção, o Prelado indicou que é preciso perguntar a Deus o que ele está tentando dizer através das palavras específicas.
“Há uma promessa aqui para vocês? Uma ordem? Uma advertência? Como se aplica este texto à situação que vocês estão vivendo neste momento?”, comentou.
“Permitam que a Palavra de Deus se torne um desafio para vocês. Se têm dificuldade para entender o que estão lendo, peçam ao Espírito que os ajude”, especialmente a compreender as cenas e os ensinamentos que “não estão de acordo com a maneira de pensar, as expectativas e os preconceitos de vocês”, destacou.

4. Rezar
Depois de compreender o que Deus quer dizer, o Prelado indicou que é necessário responder a Deus. Isso se faz através da oração.
“Pode ser uma oração de agradecimento ou de louvor. A oração pode ser através de um pedido, um pedido para que Deus lhes dê a força para seguir adiante ou que lhes conceda alguma graça ou virtude especial”, explicou.
Além disso, acrescentou que, “quanto mais rezemos com os Evangelhos, mais podemos pensar conforme ‘a mentalidade de Cristo’ e, assim, nos ‘apropriaremos dos seus pensamentos e sentimentos; mais poderemos ver a realidade com os seus olhos”.
Ao rezar mais, experimentaremos com mais intensamente “o chamado de Cristo a mudar o mundo, para assim moldar a sociedade e a história segundo o desígnio amoroso de Deus”.

5. Contemplar
A lectio divina termina com a contemplação. Este é o momento de permanecer em silêncio e “contemplar Deus”.
“Na contemplação, somos como crianças que querem conhecer a maneira de pensar e a vontade do Pai que nos ama. Com a mente tranquila, descansa na presença do seu olhar. ‘Eu olho para ele e ele olha para mim’”, comentou o Arcebispo de Los Angeles.
Nesta fase, “a lectio divina nos leva a fazer resoluções e nos comprometermos para a ação”.

Papa Francisco: Ideologia de gênero procura apagar diferenças entre homem e mulher

Vaticano, 05 Out. 17 / 04:30 pm (ACI).- O Papa Francisco criticou a ideologia de gênero ao denunciar que se reabriu “o caminho para a dignidade da pessoa neutralizando radicalmente a diferença sexual e, portanto, a compreensão do homem e da mulher não é correta”.

“Em vez de contrastar as interpretações negativas da diferença sexual, que mortificam seu valor irredutível para a dignidade humana, deseja-se cancelar o fato de tal diferença, propondo técnicas e práticas que a tornam irrelevante para o desenvolvimento da pessoa e para as relações humanas”.

Em um encontro com a Assembleia Plenária da Pontifícia Academia para a Vida, no Vaticano, presidida por Dom Vincenzo Paglia, o Papa fez uma entusiasmada defesa da vida e alertou contra movimentos que tentam mudar sua realidade.

Francisco criticou que “a utopia do ‘neutro’, remove seja a dignidade humana da constituição sexualmente diferente, seja a qualidade pessoal da transmissão generativa da vida”.

“A manipulação biológica e psíquica da diferença sexual, que a tecnologia biomédica permite vislumbrar como totalmente disponível à escolha da liberdade – emquanto não o é! – corre o risco assim de desmontar a fonte de energia que alimenta a aliança do homem e da mulher e a torna criativa e fecunda”.

O Bispo de Roma também deixou claro que, quando recebemos a vida como um dom, esta “nos regenera”, porque “nos enriquece”, e advertiu que, se essa realidade for rechaçada, “a nossa história não será renovada”.

Além disso, pediu para cuidar dos diversos estágios da vida, especialmente as crianças e idosos. “Uma sociedade na qual tudo isso só pode ser comprado e vendido, burocraticamente regulado e tecnicamente predisposto, é uma sociedade que já perdeu o sentido da vida”.

Em sua opinião, por isso “constroem cidades cada vez mais hostis às crianças, e comunidades mais inóspitas para os idosos, com muros sem portas e janelas” que, em vez de “proteger, na verdade sufocam”.

Fratura geracional
Por outro lado, o Pontífice refletiu sobre as novas tecnologias e a sua relação com a vida e falou acerca do “poder” das biotecnologias, “que agora permitem manipulações da vida até ontem impensáveis”.

“É urgente intensificar o estudo e o confronto sobre os efeitos de tal evolução da sociedade no sentido tecnológico para articular uma síntese antropológica que esteja à altura deste desafio do nosso tempo”.

“A inspiração de condutas coerentes com a dignidade humana diz respeito à teoria e à prática da ciência e da técnica em sua abordagem em relação à vida, ao seu sentido e valor”.

Francisco denunciou que o homem parece estar “na rápida disseminação de uma cultura obsessivamente centrada na soberania do homem em relação à realidade”.

Em seguida, denunciou a “egolatria”, isto é, “uma verdadeira adoração do ego”. “Esta 
perspectiva não é inofensiva, mas ela plasma um sujeito que olha constantemente para o espelho, até se tornar incapaz de dirigir o olhar para os outros e para o mundo”.

Além disso, denunciou o “materialismo tecnocrático” do qual sofrem mulheres e crianças em todo o mundo e reafirmou a ideia de que “um autêntico progresso científico e tecnológico deveria inspirar políticas mais humanas”.

Diante desta situação, “o mundo precisa de crentes que, com seriedade e alegria, sejam criativos e propositivos, humildes e corajosos, resolutamente decididos a recompor a fratura entre as gerações”.

“A condição adulta é uma vida capaz de responsabilidade e amor, seja em direção da geração futura seja em direção daquela passada. A vida dos pais e das mães em idade avançada, espera-se, seja honrada pelo que generosamente deu, não ser descartada por aquilo que não tem mais”.

Teologia da Criação
Francisco sublinhou a importância de uma teologia da Criação e da Redenção que “saiba se traduzir em palavras e gestos do amor por cada vida e por toda vida”.

Por isso, recordou que o relato bíblico da Criação precisa ser “reeleito novamente” para “apreciar toda a amplitude e profundidade do gesto do amor de Deus que confia à aliança do homem e da mulher na criação”.

“Esta aliança certamente é selada pela união de amor, pessoal e fecundo, que marca o caminho da transmissão da vida através do matrimônio e da família”.

O Papa também afirmou que “o homem e a mulher são chamados não apenas a falar-se de amor, mas a falar-se com amor, do que eles devem fazer para que a convivência humana se realize na luz do amor de Deus por cada criatura”.

Aparecida: uma história de amor

http://noticiascatolicas.com.br/wp-content/uploads/2017/10/45256824.jpgSe alguém sair por aí perguntando: “Quem foi Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos?”, provavelmente ouvirá como resposta uma outra pergunta: “Quem?…” Esse português, nascido no século XVI, é mais conhecido pelo seu título de nobreza: “Conde de Assumar”. Seu nome é lembrado quando se conta a história do encontro da imagem que hoje chamamos de Aparecida – melhor, de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Vamos aos fatos. Era o mês de outubro de 1717. O Conde de Assumar iria passar pela localidade conhecida com o nome de Guaratinguetá, no estado de São Paulo. Viajavam com ele muitos outros portugueses, a caminho de Vila Rica, em Minas Gerais, pois o rei de Portugal lhe havia confiado uma desafiadora missão: ser seu representante, para garantir que um quinto do ouro que viesse a ser encontrado por qualquer pessoa ou grupo fosse enviado para Lisboa, sede do reino português.

Por onde passava, a caravana era recebida com homenagens e fartos almoços. Não poderia ser diferente pois, em Guaratinguetá, situada à margem do Rio Paraíba. Era natural que ali, nas refeições, o peixe fosse o prato principal. Mas era preciso pescá-lo!

Três pescadores – Felipe Pedroso, Domingos Martins Garcia e João Alves – foram ao rio e começaram as tentativas para garantir a refeição. Não sabemos muitos detalhes dessa pesca. O que sabemos é que, de repente, na rede havia o corpo de uma imagem; em seguida, foi encontrada a cabeça da mesma imagem de cerâmica, enegrecida pelo lodo.

Essa imagem ficou por quinze anos na casa de um deles  –  Felipe Pedroso  –, onde foi colocada num altar. O povo, então, começou a ir ali para fazer orações e novenas, movido por uma convicção:  a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui a única mediação de Cristo; antes, manifesta sua eficácia. Participamos da misericórdia de Cristo e de sua bondade. Por que, então, alguém não poderia participar de sua mediação?

Hoje, os peregrinos vão a Aparecida e olham para a pequena imagem de Maria. Essa imagem lhes lembra aquela que, permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Desse olhar para a mãe, nasce nos peregrinos o olhar para Jesus, o Filho de Deus, o Salvador.

Em Aparecida, passados 300 anos, o povo mostra seu amor a Maria através de várias expressões de fé: celebrações, orações, novenas, Rosário… Depois, leva o que ali aprendeu para suas comunidades. Seria importante que, em nossos lares, isso se repetisse e nunca faltasse, junto com a leitura da Palavra de Deus, a oração do Terço e outras manifestações da piedade popular. Maria Santíssima poderá, então, conduzir cada pessoa e cada famílias pelos caminhos de seu Filho Jesus.

Por Dom Murilo S.R. Krieger – Arcebispo de Salvador

A igreja e os tempos atuais

“A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (Cf. Mc 16,15). Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium 1). A atualidade das palavras da “Lumen Gentium” mostra a lucidez com que os padres conciliares, certamente conduzidos pelo Espírito Santo, abriram as portas da consciência eclesial, a fim de que, inserida num mundo altamente provocante e desafiador, a Igreja com ele dialogue, seja sinal de Deus e fermente com a força do Evangelho todas as realidades humanas.
Entretanto, uma questão pode ser colocada com pertinência a respeito da face da Igreja a ser apresentada à humanidade de hoje. Já não vivemos em época de cristandade, quem sabe, sonhada por muitos grupos e pessoas, a pensar numa sociedade totalmente submissa às normas do Evangelho, inclusive com o controle das estruturas sociais e políticas. O pluralismo reinante é provocante à nossa qualidade de testemunho, de forma a ouvir a todos, dialogar, compartilhar, estabelecer pontes, descobrir as sementes do Verbo de Deus que o Espírito Santo plantou em todas as partes e culturas. Não se trata de renunciar à nossa profissão de fé, até porque só pode dialogar verdadeiramente quem tem clareza a respeito de suas convicções e sabe lutar por elas, sem negar o direito dos outros a um modo diferente para enxergar a realidade. Há elementos novos, técnicas de comunicação surgidas em nosso tempo e que antes eram inimagináveis. A “aldeia global” de que se falava há alguns anos já se tornou menor ainda, para ser imensa. É a nossa casa! E nela há de tudo, sugerindo um processo de discernimento a ser assumido com muita lucidez.
A imagem do templo, quem sabe, a do mosteiro ou do convento, ou o lugar recolhido no qual não somos “incomodados”, ou a Igreja comprometida com os poderes do mundo, ou apenas com uma estrutura clerical, tudo isso entra em crise, se não nos abrimos para as perspectivas proféticas do Concílio Vaticano II, hoje atualizadas, com o magistério dos pontífices que magnífica e providencialmente têm conduzido a Igreja. Ouvimos o Papa Francisco falar de Igreja em saída, cultura do encontro, misericórdia, de Deus que não se cansa de perdoar! Somos chamados a ir ao encontro das chagas existentes nas famílias e na sociedade, mantendo-nos fiéis aos princípios do Evangelho e à doutrina moral da Igreja, mas debruçando-nos com compreensão e bondade sobre a vida concreta das pessoas, para ajudar o mundo a se elevar à dignidade por ele mesmo impensada, pois nascida do amor infinito da Santíssima Trindade.
Nosso Senhor, no belíssimo discurso a respeito da vida em Comunidade (Mt 18, 1-35), indica perfis de grande atualidade para a presença da Igreja em nosso tempo, chamada a ser sal, luz e fermento dos valores do Reino de Deus.
A face da Igreja a ser apresentada será sempre a da misericórdia e do perdão. O Senhor apresenta até um roteiro para a correção da pessoa que erra, e infelizmente, nem sempre somos fiéis a estes passos. Primeiro a correção em particular, a sós. Depois, a ajuda de duas ou três testemunhas, em seguida a Igreja, Comunidade de fé. Só então se pode dizer que a pessoa fica fora do relacionamento eclesial e, digamos com clareza, porque ela mesma se recusou, não lhe faltando todas as oportunidades. Há muitas pessoas sedentas de serem tratadas com tanta delicadeza e paciência!
A terra e o Céu estão unidos! Impressionante a condescendência divina, quando Jesus une o discernimento, o perdão ou sua recusa, nada menos do que a seres humanos, como são os apóstolos e seus sucessores. De um lado, a grandeza e o risco do próprio Cristo! De outro, a responsabilidade dos ministros do Perdão e das Comunidades chamadas a testemunhar a reconciliação!
E o Evangelho nos conduz a uma presença de Jesus realmente revolucionária. Ele está presente verdadeiramente entre aqueles que se reúnem em seu nome. Não tanto dois ou mais santos, ou justos, ou melhores do que os outros. A tônica está no “acordo”, decidir-se a estar unidos em seu nome, o que significa amar-se mutuamente, prontos a dar a vida uns pelos outros! Afinal de contas, em outro lugar o Senhor afirmou que “nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
Podem as pessoas levantar perguntas sobre a doutrina, outras vezes não aceitarão nossos ritos litúrgicos, farão mil perguntas sobre a pregação que lhes é oferecida, ficarão escandalizadas com a forma com que os bens da Igreja forem administrados ou com os erros e pecados dos cristãos. Entretanto, a força do amor recíproco, com a presença de Jesus em nosso meio, que depois se desdobra na oração que vem como fruto deste consenso da caridade, esta é, sem dúvida, uma face brilhante e resplandecente da Igreja a ser oferecida em nosso tempo. Ela será a porta para a compreensão de todas as outras realidades. De fato, Ele está no meio de nós!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará