Acolher Cristo Jesus

O evangelho de hoje, Lucas 10,38-42, nos conta o acolhimento a Jesus na casa de seus amigos os irmãos Marta, Maria e Lázaro. O relato fala do comportamento das duas irmãs presentes nessa ocasião.

Com o episódio passado do bom samaritano, 10,25-37, Jesus ensinava o mandamento do amor ao próximo como essencialmente necessário ao cristão. Hoje, continuando a ler, descobrimos que Jesus entrou em casa de Marta e Maria. Marta se ocupa do seu trabalho. Maria, sentada aos pés do Senhor, escuta a sua palavra. Diante do protesto de Marta, Jesus formula uma sentença decisiva: “Marta, Marta, tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

Marta é símbolo do trabalho continuado e estressante que nos faz escravos das coisas humanas e não nos permite perscrutar o grande mistério de Deus que nos circunda. Maria ao invés é símbolo de quem escuta a palavra. Por certo deverá agir, mas a sua obra não será um simples trabalho, porém um colocar em prática o que ouviu.

Geralmente, se colocam em oposição Marta e Maria, como a ação e a contemplação. Essa perspectiva não é exata. Marta representa unicamente a ação que não é baseada sobre a palavra de Jesus, isto é não aberta ao reino. Maria simboliza uma escuta da palavra que se deve traduzir necessariamente em amor, isto é no serviço ao próximo.

Na atualidade, somos levados a condividir o comportamento de Marta, que quer fazer tudo e se prodigaliza para tornar confortável a hospitalidade ao Senhor. Comportamento lógico, judicioso, sensato.

Maria ao invés é mais difícil de compreender. Ela está aos pés de Jesus, ociosa. Não faz nada. Chegaram Jesus e os apóstolos. Para acolhê-los como convém há muito por fazer.

É necessário fazer atenção às palavras de Jesus. Descobriremos que Jesus não agride Marta “porque trabalha”. Jesus não lhe diz: “Tu te ocupas”, mas “Tu te preocupas, te agitas muito”. O ocupar-se é um fazer ordenado e normal; ao invés, o preocupar-se é um fazer inquieto, um agitar-se próprio de quem perdeu a serenidade e equilíbrio, é ansioso e quer fazer mais do que convém. Desse preocupar-se fora dos limites, Jesus reprova Marta.

De outra parte, Jesus não louva a irmã “porque está ali sem fazer nada”. Louva-a, porque Maria é consciente do momento excepcional que está vivendo, do seu encontro com o Senhor. Está ali em escuta total, disponível plenamente para acolher a Palavra de Deus.

Os momentos de escuta e do empenho ativo são ambos necessários, mas o escutar vem primeiro, e condiciona as modalidades do mesmo empenho: é no escutar que descobrimos porque e como devemos nos empenhar.

Sabemos do mandamento do Decálogo que diz: “Terceiro, recorda-te de santificar as festas”. Nem sempre temos presente o motivo porque nos foi dado. Podemos explicá-lo com as famosas palavras de Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. O motivo para colocar-nos na escuta do Senhor, o trazemos no profundo do nosso coração. Somos criaturas orientadas para o Criador, filhos para o Pai de todos. Devemos tornar-nos semelhantes à Maria, que se colocou em escuta do Senhor Jesus. Nessa escuta encontra o sentido da sua existência.

Não se trata de estar na escuta de qualquer conversa, mas da Palavra que vem de Deus. Decálogo é expressão grega que significa “dez palavras”. Palavras densas, pedras marcas ao longo do caminho da humanidade. Os primeiros cristãos, depois da ascensão do Senhor ao céu, recolheram as frases ditas por Jesus, que recordavam de memória, e as colocaram por escrito. São os ditos de Jesus. Não se perderam, mas os evangelistas os conheceram bem, e os usaram para compilar os Evangelhos. Também essas: palavras de peso.

Nós hoje podemos encontrar as palavras que estão na Bíblia. Em casa, podemos apagar o televisor, abrir o Evangelho, sintonizar-nos sobre as ondas longas do Senhor. Temos reuniões, especialmente eucarísticas, de nossas comunidades, no dia do Senhor. E dizemos: “Palavra do Senhor. Assim seja!

Dom Geraldo Majella Agnelo

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