A imprensa, uma desgraça ou uma bênção?

No dia 24 de março, em Brasília, o Presidente Lula acusou a imprensa de ter "predileção pela desgraça" e de fazer reportagens que nada mais são do que uma "grande mentira": «É triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar; tem a chance de escrever a coisa certa, e não quer. É triste e melancólico! Imagino um estudante que, daqui a 30 anos, tiver que fazer uma pesquisa e ler determinados tablóides: o que ele vai encontrar é uma grande mentira!».

Alguns meses depois, no dia 18 de setembro, em Campinas, ele voltou à carga: «Há dias em que determinados setores da imprensa brasileira chegam a ser uma vergonha. Se o dono do jornal lesse o seu jornal, ou o dono da revista lesse a sua revista, eles ficariam com vergonha do que escrevem. E falam em democracia! Não sou eu que vou censurá-los, é o telespectador, é o ouvinte, é o leitor que vai medir aquilo que é mentira e aquilo que é verdade».

Infelizmente, por essa vez, preciso concordar, pelo menos em parte, com o Presidente. É só conferir o que se repassa aos alunos por universidades e livros de história pagos pelo Ministério da Educação e Cultura do Governo que ele preside. Não é preciso esperar trinta anos para que os jovens descubram que lhes estão sendo impingidas “grandes mentiras”. Elas já vêm de longa data, mas se acentuaram nestes últimos anos com a arrogância de uma “ciência” para quem a própria Igreja já é, por si mesma, uma grande mentira.

Como é natural, cada historiador, cada escritor, cada jornalista – e cada indivíduo – tem a sua visão da história, do mundo e da realidade que o cerca, fruto de sua maturidade ou de suas perturbações psíquicas. Uma visão que nem sempre é imparcial, serena e justa.

Foi também o que aconteceu durante a visita de Bento XVI ao Reino Unido, de 16 a 19 de setembro. No sábado, dia 18, a grande mídia preferiu falar dos 5.000 manifestantes que contestavam sua presença do que das 200.000 pessoas que, de toda a parte, acorreram para agradecer ao Papa pelo novo capítulo que, graças a ele, se abria na história religiosa e social da nação.

Quem o percebeu e expressou foi nada menos do que Rowan Williams, arcebispo de Cantuária e primaz da Igreja Anglicana: «A viagem de Bento XVI foi realmente abençoada e as pessoas saíram às ruas para manifestar a própria fé. O conflito é sempre uma notícia melhor para uma manchete de jornal do que a harmonia. Acho que é uma pena que o mundo veja apenas as controvérsias ou as pequenas coisas negativas, enquanto o imenso peso da oração cotidiana, da compreensão, do amor e da amizade que existe entre nós passa despercebido. Minha oração e minha esperança para esta visita é que ela ajude a promover a fé neste país».

Mas não foi apenas o primaz anglicano que conseguiu ver o que alguns não queriam. A atmosfera que se respirava nas cidades e ambientes visitados por Bento XVI era de simpatia, fraternidade e alegria. É o que atestavam centenas de faixas trazidas pelos fiéis: “Papa, nós te amamos!”. “Estamos 100% com o Papa!”.

Nem faltou o tradicional o humor inglês. Diante de cartazes que vociferavam “Não ao papismo”, um padre brincou: «É bom encontrar também aqui na Inglaterra protestantes autênticos, à moda antiga!».

Para o coordenador da visita, Dom Andrew Summersgill, a viagem de Bento XVI ao Reino Unido deve ser definida como “histórica”: «O que mais me impressionou foi a acolhida que o Santo Padre recebeu, tanto por parte dos católicos como dos demais cristãos, dos pertencentes a outras religiões e dos que foram só para vê-lo enquanto atravessava a cidade».

Referindo-se ao tema escolhido para a visita: "O coração fala ao coração", ele acrescentou: «O Papa falou ao coração, mas, sobretudo, a partir do coração. Foi o que se percebeu em suas palavras e em suas atitudes. Para todos, ele foi um pai!»

É por isso e muito mais que a imprensa pode ser uma desgraça ou uma bênção. Depende do coração e das opções de quem a produz e de quem a interpreta...

Dom Redovino Rizzardo

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