Mude de religião enquanto é tempo...


Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados - MS

No dia 11 de fevereiro de 2011, a Câmara dos Vereadores de Dourados se reuniu para eleger um novo presidente. Era uma sexta-feira à noite, o que fez com que um deles não comparecesse ao ato. O motivo alegado não deixou de chamar a atenção: sendo membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, era-lhe proibido exercer atividades profissionais entre o pôr do sol de sexta-feira e do sábado.
Nada de anormal que alguém tenha e pratique uma religião, sobretudo quando a coloca a serviço da vida, da fraternidade e do bem comum. A dúvida surge quando, por motivos religiosos, se tomam – ou se deixam de tomar – práticas e ações das quais depende o bem do indivíduo e da sociedade.
No dia 16 de fevereiro, um jornal local debatia o assunto numa reportagem intitulada: “Eleição ameaçada”! Nela, o autor punha em dúvida a validade da eleição do Presidente «por não ter conquistado o voto da maioria dos integrantes da Casa de Leis» e por ter sido (o citado vereador) «impedido de participar da votação por questões religiosas, já que, na condição de membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ele estaria impedido de trabalhar ou fazer qualquer tipo de atividade após o pôr do sol de sexta-feira. Assim, o vereador pode pedir a anulação da sessão extraordinária e exigir uma nova sessão, em data e horário compatíveis com a religião e a fé que ele professa».
Fico me perguntando o que sucederia no Brasil se todos os católicos agissem da mesma maneira e se negassem a trabalhar aos domingos! E se isso acontecesse, como se comportariam os empresários que colocam o lucro acima de quaisquer outros valores?!
Contudo, a bem da verdade, devo reconhecer que muita coisa melhoria nas famílias e na sociedade se nos deixássemos guiar por uma religião bem entendida.
Mas, o que significa uma religião bem entendida? Dou a palavra a alguém que sabe expressar-se melhor do que eu, o teólogo e escritor espanhol, Pe. José Antônio Pagola: «Nenhum setor judaico discute com Jesus sobre a bondade de Deus, sua proximidade ou sua ação libertadora. Todos creem no mesmo Deus. A diferença está em que os dirigentes religiosos daquele povo associam Deus com o seu sistema religioso, e não tanto com a felicidade e a vida das pessoas. A primeira coisa e a mais importante para eles é dar glória a Deus observando a lei, respeitando o sábado e assegurando o culto do templo. Jesus, pelo contrário, associa Deus com a vida: a primeira coisa e a mais importante para ele é que os filhos e filhas de Deus desfrutem da vida de maneira justa e digna. Os setores mais religiosos sentem-se urgidos por Deus a cuidar da religião do templo e do cumprimento da lei. Jesus, pelo contrário, sente-se enviado para promover a justiça de Deus e a sua misericórdia».
Ao comentar a cena do “Juízo Final”, assim como é apresentado por Jesus, o mesmo autor apresenta uma interpretação que põe em cheque o conceito de religião assim como é visto pela maioria das pessoas que se consideram fiéis e praticantes: «Os que são declarados “benditos do Pai” não agiram por motivos religiosos, mas por compaixão. Não é sua religião nem a adesão explícita a Jesus que os leva ao reino de Deus, mas sua ajuda aos necessitados. O caminho que conduz a Deus não passa necessariamente pela religião, pelo culto ou pela confissão de fé, mas pela compaixão para com os “irmãos pequenos”. Podemos dizer, sem medo de equivocar-nos, que a “grande revolução religiosa” levada a cabo por Jesus é ter aberto outra via de acesso a Deus, diferente do sagrado: a ajuda ao irmão necessitado. A religião não detém o monopólio da salvação; o caminho mais acertado é a ajuda ao necessitado. Por ele caminham muitos homens e mulheres que não conheceram Jesus».
De per si, não é nenhuma novidade, se já São Tiago esclarecia que «uma religião é boa e válida diante de Deus se sabe socorrer os órfãos e as viúvas – as duas classes mais excluídas da época – e se manter livre da corrupção do mundo» (Tg 1,27).
Para saber, portanto, da qualidade de sua fé religiosa, observe se ela lhe dá a força e a alegria de que precisa para se libertar da “corrupção do mundo” e para fazer seu o projeto de Jesus: «Reunir os filhos de Deus dispersos» (Jo 11,52), «para que todos tenham vida plena e vigorosa» (Jo 10,10).

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