Presença da Igreja no mundo


Dom Eduardo Koaik
Bispo emérito de Piracicaba - SP


A Igreja deve estar presente no mundo, agindo de forma concreta e eficaz para a construção do Reino. Assim o faz imitando seu Fundador que nos ensina que “Deus amou de tal forma o mundo que entregou seu Filho único para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3, 16) Assim como Jesus é enviado ao mundo pelo Pai, a Igreja é enviada ao mundo por Cristo.
A Igreja está no mundo, mas  não se confunde com o mundo. Por isso que Jesus afirma: “Vocês não são do mundo”. (Jo 15, 8) A Igreja não deve afastar-se do mundo, mas guardar-se da influência do “espírito do mundo”, dentro dessa perspectiva do Divino Mestre.
A presença de Jesus no mundo não se limitou ao interior do templo. Ele sempre esteve no meio do povo. Assim, a Igreja não pode “fechar-se na sacristia”, mas estar presente, com palavra e ação, buscando transformar o mundo.
A história da Igreja ao longo dos séculos é cheia de luzes e sombras. Iniciou sua missão debaixo de perseguições, era a Igreja das catacumbas. No século IV, o imperador Constantino fez do cristianismo a religião do Estado. Desta forma, durante a Idade Média, ora era dominada pelo poder temporal, ora ela dominava o poder temporal. Foi o tempo da cristandade, em que Igreja e mundo eram uma só realidade. A partir do Renascimento, no século XVI, a cristandade começou a ser rompida: a Igreja ficou de um lado e o mundo do outro. Ser cristão era sair do mundo e, nesse espírito, surgiram várias ordens religiosas.
No século XVI, deu-se a descoberta do Brasil. A Igreja que para cá veio foi a que existia em Portugal, unida ao poder temporal. Nesse contexto entende-se o que o poeta Camões escreveu em “Os lusíadas”, seu  poema imortal: “E (canto) aqueles reis que a fé e o império foram dilatando”. A Igreja era unida ao poder temporal e, no Brasil colônia e império, caminhou deste modo, unida ao rei de Portugal e depois ao imperador.
Com a proclamação da República, houve a separação. A partir daí, a Igreja vem afirmando cada vez mais sua independência, consolidada com o surgimento da CNBB. Hoje o Brasil é uma nação de pluralismo religioso e cultural e, nessa nova realidade, deve marcar presença pública firme. Sem querer dominar, não pode omitir-se e deve abrir-se ao diálogo. Sua pastoral não pretende conquistar impondo-se, mas sim pelo testemunho, como ação de fermento, sal e luz.
A presença pública da Igreja deve realizar-se sobretudo pela afirmação dos valores éticos na política, na ordem econômica, na ciência e, principalmente, na ordem social. Presença pública que testemunha os valores do Evangelho, pela palavra e pela ação na política, na opinião pública, no campo social.
A Igreja no Brasil carrega uma imagem muito positiva junto ao povo, construída a partir da “opção preferencial pelos pobres”. Sua presença no mundo se realiza pela palavra e pela ação. Palavra que anuncia os valores do Reino e denuncia os contravalores, como a mentira, a corrupção, a violência e outros. Ação que se realiza, de forma direta, colocando-se ao lado dos movimentos populares, sindicatos, associações, centros comunitários e outros organismos; de forma indireta, através de suas próprias organizações, sobretudo a Pastoral Social, realizando a caridade assistencial, promocional, libertadora.  A Igreja não deve inspirar só obras sociais, mas, acima de tudo, a luta pela justiça, a defesa dos direitos humanos, a exigência do bem comum. São os princípios que fundamentam a Doutrina Social, que é o Evangelho aplicado na realidade social.
Com essa presença pública, a Igreja objetiva mudar as estruturas da sociedade de “menos humanas para mais humanas”. A fé deve ser a fonte de inspiração de um processo de transformação que leva à construção de uma sociedade de cidadãos livres, iguais e participantes. Como afirma o Concílio Vaticano II, no decreto “Apostolicam Actuositatem” (n. 5), “a missão da Igreja não consiste só em levar aos homens a mensagem de Cristo e sua graça, senão também em penetrar do espírito evangélico as realidades temporais e aperfeiçoá-las.”

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