Tempo da Quaresma

Fonte: Voz da Igreja


Com a Quarta-feira de Cinzas, a Igreja inicia o período quaresmal. Quaresma é o tempo de preparação para a celebração da Páscoa, que é o momento central e mais alto da Liturgia e da vida da Igreja ao longo do ano. São quarenta dias de intenso preparo para celebrar bem a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Bem observados, esses dias podem render preciosos frutos espirituais, que acabam se refletindo também na vida prática, já que a saúde da alma transparece em todos os aspectos da vida humana.
Todo o período quaresmal é uma oportunidade especial para que você renove a sua conversão, intensifique a sua intenção de abandonar o pecado e os hábitos prejudiciais, produza frutos de justiça e caridade, avance no conhecimento de Jesus Cristo e corresponda ao Seu Amor. Durante esse tempo, a Igreja exorta os fiéis cristãos a realizarem os exercícios quaresmais, que são as práticas mais antigas e piedosas da Igreja.

São eles a penitência, a caridade e a oração: os três juntos representam o tripé principal das práticas cristãs por excelência. É claro que essas práticas devem fazer parte da vida do cristão ao longo do ano todo, mas na Quaresma devem ser exercidas mais intensamente.

Pelo jejum, praticamos a penitência, pois não é só de pão que vive o homem, mas também da Palavra de Deus (Mt 4, 4). E a Palavra Sagrada recomenda muito o jejum, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Jesus o realizou por quarenta dias no deserto antes de enfrentar o demônio e começar a vida pública; e o recomendou em várias ocasiões. “Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível do que os tesouros de ouro escondidos” (Tb 12,8). É um meio de praticar o desapego dos prazeres do mundo que podem impedi-lo de amar e servir a Deus acima de todas as coisas. Praticar corretamente o jejum leva à reflexão da fragilidade da vida neste mundo, e ajuda a ordenar a existência para Deus. O jejum corporal dá à vida humana um significado sagrado; é como focalizar a sua atenção além do corpo físico e dos prazeres meramente mundanos.

O jejum no tempo quaresmal também expressa a nossa solidariedade para com Jesus Cristo, preso, torturado, flagelado, coroado de espinhos, humilhado, crucificado e morto pela nossa salvação. Ao jejuar, você deve se concentrar não somente na abstenção de alimentos e bebidas, mas principalmente no significado mais profundo dessa prática. Alimentar-se é indispensável para a vida humana: o pecado começa quando os meios se tornam os fins, isto é, quando você deixa de comer e beber para viver, e passa a viver para comer e beber. O jejum também leva ao equilíbrio e à libertação do consumismo exagerado, tão característico da sociedade atual. O jejum bem feito nos dá a possibilidade de reconhecer as nossas faltas e misérias, porque, por meio dele, vemos o quanto ainda somos egoístas e mesquinhos.

A Igreja Católica Apostólica Romana coloca como preceito o jejum na Sexta-feira da Paixão de Nosso Senhor e na Quarta-feira de Cinzas. Mas o jejum que agrada a Deus vai muito além das práticas de mortificação ou abstinência. O verdadeiro jejum deve partir do coração, provocar libertação e mudança de vida, ou seja, de comportamento. Senão, de nada vale, já que a maior prova da vida de oração e jejum é a mudança do comportamento de quem o pratica. De que adianta rezar muito e fazer exercícios espirituais se o comportamento não muda?




É preciso entender que a renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é um fim em si mesmo, mas apenas um meio, um caminho para conquistas mais profundas. Por isso, essa prática não pode ser triste, enfadonha, cansativa, mas sim uma atividade feliz e libertadora. O cristão deve abster-se dos desejos de consumo exagerados, dos estímulos viciantes, da satisfação desregrada dos sentidos. Jejuar significa abster-se. O ser humano é ele mesmo quando consegue dizer não a si mesmo.

Na Bíblia, Deus diz que é muito mais necessário “rasgar o coração” do que as vestes (cf. Joel 2, 12-13). Isto quer dizer que, mais importante do que jejuar e cobrir-se de cinzas, melhor do que ficar sem comer isso ou aquilo, é converter verdadeiramente o coração, vivendo a Vontade de Deus de forma concreta e prá-tica, em atitudes e gestos.

Seguindo este princípio, repassar para os menos favorecidos tudo aquilo que não é consumido, ou o que é excedente, é uma ótima forma de praticar a caridade na Quaresma.

Dom Alberto Taveira (Arcebispo de Belém do Pará) produziu um pequeno roteiro para viver bem os exercícios quaresmais[1], de forma simples e bem didática. Segundo o Arcebispo, além do jejum/penitência, durante os quarenta dias da Quaresma, os fiéis católicos devem realizar:

l- A leitura diária da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, ao menos por 15 minutos ou um parágrafo por dia, seguida de oração pessoal, dedicada ao Espírito Santo - Ler, meditar e rezar a Palavra de Deus durante a Quaresma é uma obra de oração muito pro-veitosa. Para cada semana é indicada a leitura do Evangelho do próximo domingo; assim também servirá como preparação para uma participação mais proveitosa na Santa Missa.

2- A partilha - Durante a Quaresma, converse com outras pesso-as, testemunhe o que você está rezando e vivendo. Compartilhe com o seu vizinho, seu colega de trabalho ou escola/faculdade. Fale com o seu próximo, onde quer que esteja, sobre o quanto é bom ser católico, sobre o quanto você está aprendendo e crescendo com a prática dos exercícios quaresmais nesse tempo santo! Essa é uma das melhores maneiras de evangelizar: com-partilhar as bênçãos que Deus lhe concede.

3- O aperfeiçoamento da formação pessoal - além da leitura da Bíblia, seria muito interessante se você pudesse também apro-veitar estas semanas da Quaresma para conhecer melhor a Igre-ja da qual você é parte. Procure ler um Documento da Igreja, que pode ajudar a entender a história e a doutrina da grande comunidade católica. Procure uma livraria católica, pergunte pelas encíclicas dos Papas, pelas cartas apostólicas... Estude, cresça em conhecimento, isso só vai lhe fazer bem! E partilhe esses conhecimentos também!

4- A caridade - Acolha em sua vida o eterno convite de Jesus Cristo: viva a caridade de maneira concreta no seu dia a dia. Saia da teoria para a prática! Procure sua paróquia e informe-se a respeito das pastorais, grupos de apoio e ajuda aos menos favo-recidos. Você vai se surpreender ao saber quantas oportunida-des de fazer o bem estão à sua espera, ali na esquina mesmo, de acordo com as suas possibilidades. Deus não nos trouxe a este mundo a passeio: a partir do instante em que você crê em Jesus, assume também a missão sagrada de ser um(a) imitador(a) de Cristo neste mundo, de ser alívio para o que sofre, de ser exemplo para os que andam perdidos.

5- A oração - participe das orações da Via-Sacra em sua paró-quia, e, na medida do possível, também da reza do Terço, do Rosário e outras. Você verá que rezar em comunidade é ainda mais gratificante! Deus nos fez irmãos pelo Amor de Cristo; devemos ser unidos: viva esta fraternidade com Amor e alegria no tempo quaresmal!

Oremos:Senhor, Pai Santo da Misericórdia, guia-me nesta Quaresma a dar mais alguns passos na fé, em tua direção. Quero viver este tempo com amor, devoção e alegria; quero estar mais atento(a) a cumprir tua Vontade. Amém. 


* O jejum consiste em deixar de fazer uma das principais re-feições do dia. - A abstinência consiste em não comer carne.

* A Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa são dias de abstinência e jejum. Com esses sacrifícios, todo o seu ser (corpo e alma) reconhece a necessidade de praticar obras para reparar os seus pecados e para o bem da Igreja.

* O jejum e a abstinência podem ser trocados por outro sacrifício, dependendo do que ditem as Conferências Episcopais de cada país, pois elas têm autoridade para determinar as diversas formas de penitência cristã.



1 CORRÊA, Alberto Taveira. Retiro Popular - Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo, São Paulo: Canção Nova, 2012.

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