A
igreja, nos primeiros séculos, ministrava numa única celebração, para
os adultos e crianças, três Sacramentos: Batismo, Crisma e Eucaristia.
Para os adultos havia uma preparação de três anos, o catecumenato. Na
vigília pascal o catecúmeno recebia os três Sacramentos.
Muitos são os documentos e citações que narram o Batismo dos
primeiros séculos. Vamos conhecer algumas citações importantes dos
“Padres da Igreja”, que nos esclarecem muitas coisas. Esses Padres foram
os grandes homens que formularam a fé católica, desde os Apóstolos,
enfrentando as heresias e os cismas. Entre eles estão S. Jerônimo, S.
Basílio Magno, S. Gregório Magno, S. Agostinho, S. Irineu de Lião etc. É
interessante e importante conhecer um pouco do que esses pais da Igreja
escreveram sobre Batismo nos primeiros séculos da Igreja.
S. Hipólito de Roma († 235) descreveu sobre o Batismo, com detalhes, em sua Tradição Apostólica:
“Ouçam os catecúmenos a palavra durante três anos… escolhidos os que
receberão o Batismo, sua vida será examinada: se viveram com dignidade
enquanto catecúmenos, se honraram as viúvas, se visitaram os enfermos,
se só praticaram boas ações… Aproximando-se o dia em que serão
batizados, exorcize o bispo cada um… Jejuem na véspera do sábado os que
receberão o Batismo… Ordene-se a todos que rezem e se ajoelhem;
impondo-se sobre eles as mãos, exorcizará o bispo todos os espíritos
estranhos para que fujam e não tornem jamais; ao terminar o exorcismo,
sopre-lhes no rosto. Depois de marcar-lhes com o sinal da cruz a fonte,
os ouvidos e as narinas, ele os fará levantar-se… Ao cantar do galo,
reze-se primeiro sobre a água, na fonte ou derramando-se do alto… Em
caso de necessidade usa-se a água que se encontraram… Os batizados
despirão as suas roupas, batizando-se primeiro as crianças. Todos os que
puderem falar por si mesmo falem. Os pais, ou alguém da família, falem
pelos que não puderem falar por si. Batizem-se os homens e finalmente as
mulheres…”
Esta longa descrição de como era ministrado o Batismo, e que
continua, mostra que este Sacramento era ministrado na madrugada do
domingo, após um dia inteiro de orações, leituras e jejum; a preparação
era longa, com anos de instrução e exorcismos (não de processos);
batizavam crianças que ainda não tinham idade para falar; a unção do
óleo após o Batismo equivale ao Sacramento da Crisma.
S. Justino Mártir, († 151), I Apologia 61:
“Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja
água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai
de todos, de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo que recebem a
loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos Apóstolos.”
Didaquè – A Doutrina dos Apóstolos, o primeiro “catecismo” da Igreja (ano 100):
“Quanto ao Batismo, batizai assim: depois de terdes ensinado o que
precede, batizai em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, em água
corrente; se não existe água corrente, batize-se em outra água. Se não
puder ser em água fria, faze em água quente. Se não tens bastante, de
uma ou de outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo. Antes do Batismo, jejuem: o que batiza, o
que é batizado e outras pessoas.”
Aqui se vê claramente que desde o primeiro século a Igreja já
ministrava o Batismo por efusão (derramamento de água) e não apenas por
imersão (mergulho na água).
S. Ireneu (140-202), que foi bispo de Lião:
“Jesus veio salvar a todos os que através dele nasceram de novo [pelo
Batismo] de Deus: os recém-nascidos, os meninos, os jovens, os velhos.”
“O Batismo nos concede a graça do novo nascimento em Deus Pai os que
têm o Espírito Santo. Pois os que têm o Espírito de Deus são conduzidos
ao Verbo, isto é, ao Filho; mas o Filho os apresenta ao Pai, e o Pai
lhes concede a incorruptibilidade. Portanto, sem o Espírito Santo não é
possível ver o Filho de Deus, e, sem o Filho, ninguém pode aproximar-se
do Pai, pois o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho
de Deus se faz pelo Espírito Santo” (Dem. 7).
Orígenes – bispo de Alexandria (184-285):
“A igreja recebeu dos Apóstolos a Tradição de dar o Batismo também aos recém-nascidos” (Ep. Ad. Rom. LV, 5,9).
S. Cipriano, bispo de Cartago (210-258):
“Do Batismo e da graça não devemos afastar as crianças” (Carta a Fido).
Note que desde o século II já há uma comprovação de que a igreja batizava os recém-nascidos, como continua a fazer hoje.
Santo Hilário (310-367):
“Tudo o que aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois na
imersão na água, o Espírito Santo voa sobre nós do algo do Céu e que,
adotados pela Voz do Pai, nos tornamos filhos de Deus” (Mat. 2).
O concílio de Cartago (ano 418), que condenou o pelagianismo,
rejeitou a posição “daqueles que negam que se devam batizar as crianças
recém-nascidas do seio materno” (Cânon 2, DS, 223).
O concílio de Florença (ano 1442), exigiu que fosse administrado o
Batismo aos recém-nascidos “o mais depressa que se possa fazer
comodamente” (DS. 1349).
Prof. Felipe Aquino
Retirado do livro “Batismo”- Coleção Sacramentos- Ed. Canção Nova
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