Fonte: http://beinbetter.wordpress.com
“Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.
Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.” (Lc 9, 23-24)
As leituras do Evangelho do tempo da Quaresma são uma severa condenação ao egoísmo e à auto-suficiência. Renegue-se a si mesmo, diz o Senhor no Evangelho da Quinta-Feira após as Cinzas.
A história da tradição judaico-cristã é, de fato, uma constante luta contra tendências da nossa natureza. Nascemos no pecado original, drama que nos impele a praticar o mal e a fechar-nos em nós mesmos. O cristianismo vem e propõe uma forma de vida inversa: nós estamos mesmo na lama do pecado, mas devemos superá-lo. Através do Batismo, que purifica os pecados, somos convidados a deixar esse egoísmo de lado e praticarmos o “renegue-se”.
É por isso que a doutrina social da Igreja é um dos ensinamentos mais fantásticos da nossa fé. Se nós obedecermos à nossa tendência egoísta, que visa agradar somente a nós mesmos, que visa satisfazer os nossos próprios interesses, não vamos conseguir viver em fraternidade. A condenação da Igreja, no entanto, não é só à obediência ao egoísmo, mas também à negação da realidade do egoísmo na alma humana. Em suma, a Igreja é contra aquela idéia – que tem suas raízes na filosofia de Rousseau – que o homem é bom, mas o meio o corrompe. Não! Se o meio está na corrupção, é porque alguém o corrompeu. O homem já nasceu no pecado. O problema não está fora, mas dentro do ser humano. É preciso que ele olhe para si mesmo e comece a negar seus desejos e suas vontades; é preciso que ele renegue-se a si mesmo.
O Catecismo da Igreja Católica observa: “Nenhuma lei seria capaz, por si só, de fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de orgulho e egoísmo que constituem obstáculos para o estabelecimento de sociedades verdadeiramente fraternas. Esses comportamentos só podem cessar com a caridade, que vê em cada homem um “próximo”, um irmão” (n. 1931). Esse ensinamento maravilhoso está no cerne da doutrina social da Igreja. O egoísmo humano, a tendência que o homem tem de satisfazer os seus desejos em detrimento do bem de toda a sociedade, só pode ser superado com a caridade cristã. Renegue-se! Nessa exortação esconde-se o inestimável tesouro da caridade.
Mas, renegar-se não significa roubar – as pessoas têm direito à propriedade privada. Ela não é um roubo -. Desprezar nossos interesses particulares não significa negar que eles existam. O egoísmo existe. Ele está na alma humana. Segue, portanto, que o pecado particular existe; e ele é praticado por cada um em particular. O “pecado social”, tão pregado pela Teologia da Libertação, visa negar a realidade de fé do pecado original, visa negar o pecado do egoísmo presente no homem.
E não pode haver erro mais pernicioso do que o de negar a existência desse pecado original. Todos nós que tivemos e temos problemas sabemos disso. De fato, nós não vencemos as dificuldades da vida ou os obstáculos da nossa caminhada negando que eles existam, mas enfrentando-os, frente a frente, procurando uma solução para eles. Assim também fazemos com o egoísmo. Não o negamos, no sentido de desconsiderar a sua existência. Afinal, qual é o tolo que, ao ver uma pedra na sua frente, ousaria negar que ela exista? Não tropeçaria nela e cairia?
Se as situações degradantes sob as quais vivem as pessoas submetidas ao sistema capitalista não estão de acordo com as diretrizes da caridade cristã, é também verdade que o socialismo, enquanto filosofia que prega o materialismo e a total opressão de meios totalmente necessários ao homem para que possa conservar a sua dignidade, não pode de modo algum solucionar os problemas mais graves presentes em nossa sociedade.
Nesse sentido, pedimos aos cristãos que parem de obedecer ao seu egoísmo e que passem a renegar-se a si mesmos. Pedimos aos cristãos que deixem de confiar em idéias perversas que contaminam a pureza da nossa fé e corrompem a nossa sociedade. Obedeçamos à doutrina social da Igreja. “Toda prática que reduz as pessoas a não serem mais que meros meios que têm em vista o lucro escraviza o homem, conduz à idolatria do dinheiro e contribui para difundir o ateísmo” (Catecismo da Igreja, § 2424).
“Renegue-se a si mesmo”. A idolatria do dinheiro é resultado de uma exaltação exacerbada do homem. Se tivermos a ousadia de olharmos para Deus e renegarmo-nos a nós mesmos, deixaremos de lado tudo o que contraria a Palavra de Deus e impede que pratiquemos a caridade.
Chega de exaltar o finito e adorar o material; chega de idealizar sonhos de paraíso na terra e de submeter o ser humano a condições de vida degradantes. Virtus in medio, já diziam os padres do deserto. A virtude está na prática constante da caridade, virtude que pode sim ajudar o homem a criar condições mais dignas de sobrevivência, deixando bem claro que a sua Pátria real não é esse mundo, mas o Céu.
Sejamos fiéis ao ensinamento do Magistério da Igreja, da Tradição e da Bíblia Sagrada. Que a Virgem Santíssima possa ajudar o homem a superar o seu egoísmo e a carregar a dura Cruz do sofrimento nessa vida. Vivemos, de fato, num “vale de lágrimas”. Tomemos a nossa cruz. Sejamos fortes; “quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á”.
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