Projeto educativo dominicano: desenvolvimento integral da pessoa

Entrevista com os responsáveis do Institut Saint Domique de Roma
Por Gisèle Plantec

ROMA, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- Verdade, liberdade e responsabilidade, apoio à criança em sua integridade, com sua inteligência, sua afetividade e seu coração. Estas são as palavras centrais do projeto educativo dominicano.

No último dia 3 de fevereiro, o Institut Saint Domique de Roma assistiu à audiência geral de Bento XVI, na qual o Papa falou justamente de São Domingos.

O diretor do instituto, Anthony Bardoux, e sor Marie-Joannès, diretora durante 40 anos e que agora trabalha junto ao novo diretor, explicaram a Zenit, com muito entusiasmo, as características do projeto educativo dominicano e como procuram aplicá-la em seu Instituto de Roma.

-Vocês poderiam explicar as especificidades do projeto educativo dominicano?

Anthony Bardoux: Em primeiro lugar, é um projeto educativo católico, inspirado, portanto, no Evangelho.

Os carismas dominicanos são fonte de inspiração para a nossa instituição. O Santo Padre destacou a noção de verdade. Verdade, liberdade e responsabilidade são as palavras centrais da nossa ação.

Nós insistimos no desenvolvimento da pessoa em sua integridade, no cuidado do indivíduo de maneira global, com sua afetividade, sua inteligência e seu coração.

-Em concreto, o que os diferencia de uma escola pública?

Anthony Bardoux: A primeira distinção é nossa capacidade de mostrar os valores cristãos e garantir que todas as pessoas que trabalham aqui estão de acordo com tais valores.

Outros elementos são a antropologia cristã e a doutrina social da Igreja. Queremos que este seja um lugar decrescimento pessoal

E, certamente, nosso marco é o Evangelho, e isso se vê.

Sor Marie-Joannès: Sim, acho que a nota mais importante é que isso seja mostrado. Não quer dizer que no ensino público não haja pessoas que vivam assim, mas nós o vivemos aqui como equipe.

Penso que a característica dominicana é a Encarnação, a paixão de Domingos por Deus e pelo homem.

-Como vocês vivem tudo isso, dada a importante presença de muçulmanos no colégio?

Anthony Bardoux: Existe uma busca muito forte de espiritualidade por parte das famílias muçulmanas, um forte compromisso com o caráter religioso e um respeito enorme.

Não existe uma doutrina social muçulmana e acho que é por isso também que os muçulmanos estão comprometidos com a dos católicos. Eles estão bem perto dos valores defendidos pelo ensino católico. Isso é verdade, pelo menos, para a imensa maioria dos muçulmanos, que é moderada.

Sor Marie-Joannès: Em alguns casos, esta convivência é inclusive estimulante. Os muçulmanos têm um grande senso do sagrado, um senso de Deus e do religioso, além do respeito explícito.

-Isso gera dificuldade, às vezes?

Anthony Bardoux: Efetivamente, há um medo do proselitismo por parte de famílias muçulmanas.

Em alguns momentos, é preciso ser delicados, respeitar sua religião e não convidar à conversão. Há celebrações para as quais não convidamos os muçulmanos, como a Missa da Quarta-Feira de Cinzas, porque é importante também que os católicos possam se recolher sem “observadores” externos.

Em geral, isso é bem aceito. Tudo se baseia no diálogo. Isso lhes ensina a tolerância, mostra que podemos conviver em torno dos mesmos valores.

Na verdade, quando falamos de católicos ou de muçulmanos, estamos falando, no fundo, de cultura. Deus ainda não faz parte verdadeiramente da vida cotidiana das crianças. E isso é um fato tanto para os católicos como para os muçulmanos.

-Como vocês vivem a colaboração entre religiosos e leigos no instituto?

Sor Marie-Joannès: A colaboração religiosos-leigos nunca foi um problema para nós.

Anthony Bardoux: Quase não há religiosos na direção de centros escolares na França. Haveria um risco real se não se prestasse atenção suficiente ao perfil de chefe do centro contratado, mas os diretores dos centros são formados segundo a doutrina católica.

As instituições religiosas que têm seu próprio carisma garantem uma formação contínua. Isso é o que se conhece como “tutela”.

A presença de leigos permite evitar que o fato religioso seja exclusivamente assunto da congregação e que haja dois mundos.

Penso que é importante que tenhamos uma cultura comum entre leigos e consagrados. Devemos ter uma cultura compartilhada.

Sor Marie-Joannès: Reciprocamente, é indispensável para o mundo religioso, pelo fato de colaborar com um diretor leigo, que oferece uma competência, mas que ao mesmo tempo é capaz de cumprir com seu compromisso.

Isso influencia toda a complementaridade e permite evitar a reclusão nos dois mundos.

-Vocês têm algum tipo de documento sobre o projeto educativo dominicano?

Anthony Bardoux: Procuramos desenvolver as ideias de educação e escrevê-las. Isso constituirá uma “base” que inspirará o conjunto dos nossos projetos pedagógicos.

Por exemplo: viver nossa profissão com espírito de serviço e não como um poder; acolher sem condições e sem caráter possessivo; romper as falsas hierarquias; aceitar os itinerários individuais e atípicos; estabelecer castigos que não humilhem nem firam; desenvolver a análise da atualidade, a pesquisa filosófica; valorizar a experiência e sua revisão etc.

A pessoa, como ser em desenvolvimento, não formula o juízo definitivo, não reduz o ser humano ao seu passado, ao seu comportamento, aos seus resultados.

Assim, ela coloca as relações interpessoais no centro do projeto escolar; promove o senso do bem comum; leva em consideração a variedade, desenvolvendo toda a questão afetiva e sexual, já que a dimensão integral da pessoa que existe por trás inclui também tais temas.

-Vocês veem os frutos do seu compromisso no ensino católico?

Anthony Bardoux: Às vezes há solicitações de Batismo, sobretudo entre os menores, mas independentemente disso, está claro que as crianças passam por um lugar de educação.

Não saem somente com conhecimentos, mas também com uma série de princípios, com valores, inclusive ainda que não os identifiquem sempre imediatamente como valores cristãos. Em geral é mais tarde, nos momentos duros, quando se lembram.

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