Quanto às ideias, é impossível haver um patrulhamento porque o ato de pensar escapa a qualquer controle; o mesmo não sucede na manifestação das ideias porque, com efeito, sempre houve um controle de parte de hierarcas religiosos, governantes e líderes sociais. A história mostra que, quando indivíduos e grupos romperam essas barreiras, por suas opções ideológicas e comportamentais, muitas vezes, houve duras consequências em sua vida, no interior da própria família e no mundo do seu relacionamento. Apesar das vigilâncias onipresentes e dos controles autoritários, nunca o poder político ditatorial, por mais truculento que se revele e a religião, por mais rígida que seja, conseguem manter a sociedade sob um comando absoluto.
Vivencia-se hoje uma “mudança de época”, mais do que uma “época de mudança” porque “as mudanças ocorrem de forma mais drástica e, aparentemente, não obedecem a um padrão previamente definido, gerando um estado de profunda instabilidade.” Mudanças na vida humana e na prática da sociedade são perfeitamente compatíveis com a índole do processo evolutivo que, por sinal, constitui o cerne da própria natureza. Obviamente, não pode haver evolução sem mudanças. Com efeito, a mutabilidade, além de impedir a mesmice das ações e a estagnação das iniciativas humanas, é elemento gerador de criatividade e inovação humanas, graças a esse prodigioso dom de Deus ao ser humano - a inteligência. Assim, a história da humanidade registra mudanças, em suas diversas épocas.
Diante das mudanças, em qualquer circunstância ou situação, jamais deverão ser desconsiderados esses dois elementos fundamentais nas relações humanas – o respeito às pessoas e os direitos sociais. O individuo e a coletividade interagem, em harmonia, quando direitos e deveres, próprios e recíprocos, são levados na devida consideração. Por experiência, todos sabem que o respeito às pessoas é um requisito básico para uma convivência enriquecedora e uma coexistência pacífica, dentro de casa, no ambiente de trabalho e no espaço das relações sociais. Isso supõe um permanente exercício de amadurecimento, uma vez que a maior parte das pessoas não foi formada nessa linha. Em qualquer caso, respeitar o outro não significa compactuar com suas idéias e concordar com sua conduta, mas isso jamais deve levar alguém a uma atitude de indiferença ou de hostilidade. Por certo, todos precisam de um tirocínio, nessa matéria, uma vez que é muito comum prevalecerem as marcas do preconceito e da intransigência, que não reconhecem o outro, com sua dignidade pessoal.
A literatura política e sociológica identifica a prática da “ditadura da maioria” sobre as minorias, em razão do nome social de pessoas, do peso econômico de grupos, da posição referencial de instituições, cujos abusos e extrapolações são sobejamente conhecidos, por estarem apoiados numa legislação discriminatória. Hoje, todavia, o vento das mudanças está levando a sociedade em direções preocupantes que vão de encontro a práticas antigas, calcadas na lei natural e sedimentadas na tradição, caindo-se no perigo oposto da “ditadura das minorias”, fundamentado, igualmente, na legislação recente de muitas nações.
As mudanças exigem muito discernimento, por parte de pessoas, grupos e instituições, cujo pressuposto é o pleno respeito às liberdades individuais e coletivas. Nesse processo, ninguém pode perder de vista a história passada, pelo significado que tem, como lembra um autor: “O futuro da humanidade está arraigado na memória.”
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