Fonte: Zenit
NICÓSIA, quinta-feira, 10 de junho de 2010. - Quando o Papa Bento XVI apresentou no domingo o Instrumentum Laboris à Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, no Palácio dos Esportes Elefteria de Nicósia, esteve presente também o sacerdote jesuíta Samir Khalil Samir.
O teólogo egípcio, filósofo e especialista no islã desempenha seu trabalho tanto em Roma quanto em Beirute. Oferece seu ensinamento sobre o cristianismo aos imames e apresenta o islã aos teólogos cristãos. Junto à Fundação Pro Oriente, colaborou de forma determinante na redação dos Lineamenta preparatórios dessa assembleia do Sínodo e do Instrumentum Laboris (Documento de trabalho).
Nesta entrevista a ZENIT, o professor ilustra a origem dos documentos, seus importantes conteúdos e as posteriores possibilidades de desenvolvimento. Segundo o padre Samir, as igrejas ortodoxas do Oriente prestarão uma atenção particular ao Sínodo do próximo mês de outubro, quando se encontrarão em Roma diversos bispos e patriarcas católicos.
Padre Samir: Em dezembro enviamos osLineamenta a todos os Patriarcas, que por sua vez fizeram chegar aos bispos. No final de janeiro e início de fevereiro, começaram a manter reuniões nas diversas dioceses e paróquias, em que se encontravam os leigos, sacerdotes, consagrados, catequistas, para discutir sobre os 30 pontos dos Lineamenta. Com isso iniciou-se um processo de reflexão.
No final de março, chegaram os comentários escritos, procedentes das reuniões ou de pessoas individuais, no um total de 100, escritos em quatro idiomas. Todo este material foi base do documento, que destacava aspectos já presentes nos Lineamenta, mas desenvolvidos posteriormente. Em seguida, em 23 e 24 de abril, encontraram-se em Roma os sete patriarcas e os dois bispos (procedentes do Irã e da Turquia) que discutiram e elaboraram em três grupos as três partes do documento. Eu estive presente.
Ao final, surgiu um novo texto, ou seja, o Instrumentum Laboris. Tivemos de trabalhar rapidamente, por causa da data de entrega prevista para a viagem ao Chipre do Santo Padre. As pessoas respondem lentamente às solicitações, e por isso não fomos capazes de englobar todas as reações inteligentes e interessantes. Contudo, o texto é bom. E, além disso, o verdadeiro e próprio Sínodo acontecerá em outubro. Portanto, não está dita a última palavra.
Padre Samir: No Sínodo, que durará duas semanas, serão expressadas todas as opiniões. Só então uma comissão redigirá um primeiro projeto para a Exhortatio apostolica do Papa. Creio que haverá alguns pontos que ainda não foram formulados.
Padre Samir: O problema principal é a emigração. Se não mudar nada, em um século, ou quase dois, não haverá cristãos no Oriente Médio, assim como no Egito. É um fenômeno que observamos no último século já na Turquia e no Irã.
Entre os demais problemas que causam a emigração está o constante clima de guerra no Oriente Médio, que já dura 60 anos. As consequências para os cristãos são muito duras, enquanto forem uma minoria, a situação não dependerá deles. Contudo, os cristãos são mais livres, porque em seu caso não se sobrepõem religião e política. Por isso creio que estes tem seguramente na religião uma missão de paz.
Os cristãos sofrem também pela falta de liberdade de fé e de consciência e pela grave situação dos direitos humanos, além do clima de violência produzido pelo islamismo em muitos países do Oriente Médio.
Padre Samir: Uma vez estive em Beirute, em uma reunião com alguns professores de teologia ortodoxos, e um deles disse que o que a Igreja Católica faz é essencial para os ortodoxos, destacando esta afirmação de uma maneira muito mais precisa que o professor Kattan. Há quase cinquenta anos, as Igrejas ortodoxas tentam se reunir em um Sínodo pan-ortodoxo, porém não conseguem. Não possuem linguagem comum. Do ponto de vista teológico, estão unidas, mas quando se trata de situações práticas, cada uma tem sua própria linha.
Diferentemente, a Igreja Católica está organizada de modo eficiente e forma uma unidade por meio do Papa. Já o Concílio Vaticano II foi de grande ajuda para as Igrejas ortodoxas, na busca de novos impulsos. Além disso, a Igreja Católica está muito próxima das vicissitudes do mundo, está ancorada firmemente no diálogo sobre os problemas atuais - como as questões de ética, bioética, economia e seguridade política - sobre os problemas da paz, da violação dos direitos humanos, da imigração e da secularização. Isso depende, em parte, do fato de que está firmemente enraizada no Ocidente, e em parte do fato de que na América Latina, na Ásia e na África, os católicos são ainda mais numerosos. Todos estes temas vêm filtrados e examinados por meio da Igreja Católica, do Papa ou das Igrejas locais, e tenta-se encontrar uma resposta ao Evangelho.
Cada uma depende de uma certa forma da política. Um papel importante tem também, além dos problemas políticos, as questões nacionais e étnicas. Também a aspiração à hegemonia torna difícil encontra uma visão comum.
A Igreja Católica, inclusive do ponto de vista sociológico, é muito universal. Dialoga com muitas confissões e religiões, em particular com o islã e os judeus. Por motivos políticos e sociológicos, isso é muito difícil para as Igrejas ortodoxas e orientais no Oriente Médio. Além disso, a respeito das confissões protestantes, não existe na prática nenhuma relação. No Oriente, os ortodoxos, assim como as Igrejas orientais católicas unidas, agradecem a Deus pelo fato de que a Igreja Católica permite a todos tomar parte em suas iniciativas.
Padre Samir: O Papa havia projetado uma viagem ao Chipre, que não está longe da região e que representa uma ótima ocasião para se encontrar com os patriarcas. Participaram sete patriarcas católicos: do Líbano, sírro-católico, melquita, grego-católico, armênio e o maronita; e, além disso, respectivamente do Iraque, Terra Santa, Jerusalém e Egito, o caldeu, o latino e o copta. Esteve presente também o arcebispo caldeu de Teerã, Dom Ramzi Garmou.
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