Se alguém sair por aí perguntando: “Quem foi Pedro Miguel de Almeida
Portugal e Vasconcelos?”, provavelmente ouvirá como resposta uma outra
pergunta: “Quem?…” Esse português, nascido no século XVI, é mais
conhecido pelo seu título de nobreza: “Conde de Assumar”. Seu nome é
lembrado quando se conta a história do encontro da imagem que hoje
chamamos de Aparecida – melhor, de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Vamos aos fatos. Era o mês de outubro de 1717. O Conde de Assumar
iria passar pela localidade conhecida com o nome de Guaratinguetá, no
estado de São Paulo. Viajavam com ele muitos outros portugueses, a
caminho de Vila Rica, em Minas Gerais, pois o rei de Portugal lhe havia
confiado uma desafiadora missão: ser seu representante, para garantir
que um quinto do ouro que viesse a ser encontrado por qualquer pessoa ou
grupo fosse enviado para Lisboa, sede do reino português.
Por onde passava, a caravana era recebida com homenagens e fartos
almoços. Não poderia ser diferente pois, em Guaratinguetá, situada à
margem do Rio Paraíba. Era natural que ali, nas refeições, o peixe fosse
o prato principal. Mas era preciso pescá-lo!
Três pescadores – Felipe Pedroso, Domingos Martins Garcia e João
Alves – foram ao rio e começaram as tentativas para garantir a refeição.
Não sabemos muitos detalhes dessa pesca. O que sabemos é que, de
repente, na rede havia o corpo de uma imagem; em seguida, foi encontrada
a cabeça da mesma imagem de cerâmica, enegrecida pelo lodo.
Essa imagem ficou por quinze anos na casa de um deles – Felipe
Pedroso –, onde foi colocada num altar. O povo, então, começou a ir ali
para fazer orações e novenas, movido por uma convicção: a função
maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui a
única mediação de Cristo; antes, manifesta sua eficácia. Participamos
da misericórdia de Cristo e de sua bondade. Por que, então, alguém não
poderia participar de sua mediação?
Hoje, os peregrinos vão a Aparecida e olham para a pequena imagem de
Maria. Essa imagem lhes lembra aquela que, permanecendo virgem, gerou,
por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Desse olhar para a mãe,
nasce nos peregrinos o olhar para Jesus, o Filho de Deus, o Salvador.
Em Aparecida, passados 300 anos, o povo mostra seu amor a Maria
através de várias expressões de fé: celebrações, orações, novenas,
Rosário… Depois, leva o que ali aprendeu para suas comunidades. Seria
importante que, em nossos lares, isso se repetisse e nunca faltasse,
junto com a leitura da Palavra de Deus, a oração do Terço e outras
manifestações da piedade popular. Maria Santíssima poderá, então,
conduzir cada pessoa e cada famílias pelos caminhos de seu Filho Jesus.
Por Dom Murilo S.R. Krieger – Arcebispo de Salvador
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