Lucidez é um dom indispensável, diz arcebispo

BELO HORIZONTE, sexta-feira, 18/02/2011 (Zenit) - “A articulação da inteligência, a clarividência, a capacidade de discernimento é um dom que faz falta em qualquer etapa da vida”, afirma o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
No jovem, por exemplo, a lucidez “fecunda sua jovialidade com um tempero que não lhe permite perder o rumo”. Já nos adultos, “é o fulcro do equilíbrio movendo suas ações e o exercício da responsabilidade de modo adequado, sempre considerando cada ato do qual dependem pessoas, a sociedade e as instituições”.

No idoso – prossegue o arcebispo, em artigo difundido hoje à imprensa –, a lucidez “garante que esse tempo seja vivido com aquela sabedoria que faz nascer a capacidade de congregar pessoas, de ser referência de desapego e ensinamento do caminho que dá gosto viver”.

Dom Walmor comenta em seguida um episódio evangélico que “é a mais completa lição para se aprender as dinâmicas geradoras e mantenedoras do dom da lucidez, em cada etapa da própria vida”.

“O evangelista Mateus narra o diálogo que Jesus teve com seus discípulos na região de Cesareia de Filipe, quando fez a eles a pergunta: ‘Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem?’.”

“A resposta de Pedro, sucinta e pertinente: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo’, deu oportunidade ao apóstolo - que foi escolhido por Deus para uma especial missão - de revelar o que o próprio Jesus afirmou. Veio da ação de Deus o fundamento da escolha de Pedro como pedra sobre a qual o Mestre quis edificar a sua Igreja.”

Segundo Dom Walmor, “a ação amorosa e invisível do Pai compaginou no coração do apóstolo a verdade que sustenta o bem e alimenta o encantamento autêntico”.

Mas o “desdobramento triste vem a seguir, quando Jesus explicita aos seus discípulos a sua condição e missão de Cristo ao dizer-lhes da necessidade de ir a Jerusalém”.

A ida de Jesus ao local “incluiria sofrimentos impostos da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas. Ia ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar”.

“Aquela palavra do Mestre fez trepidar o coração dos discípulos. A reação de Pedro revelou, também, o domínio que o maligno pode estabelecer sobre o coração humano. Esse domínio é, em sombras, a contraposição do dom da lucidez”, assinala o arcebispo.

“Pedro, ao ouvir o que Jesus disse, desafiado pelas medidas de ofertas que o Mestre lhes indicava, oferta total de si, exigência de desapegar-se de egocentrismos doentios e fomentadores do ridículo, chamou Jesus à parte e, pretensiosamente, começou a censurá-lo: ‘Deus não permita tal coisa! Que isto nunca te aconteça’.”

Ao dizer isso – prossegue o arcebispo –, “comprova que tem o coração apartado da verdade e do bem, apegado a si, aos próprios interesses e coisas, completamente opostos ao encantamento que só o amor produz. Jesus não titubeou em dizer-lhe: ‘Vai para trás de mim, Satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens’.”

A lucidez “é dom, não é só fruto de um esforço pessoal. Supõe a abertura da mente e do coração para quem é a fonte do amor: Deus”.

“Quando se caminha na contramão desse horizonte pedagógico, os feitos, os anos, as conquistas, os gestos, tudo fica obscurecido pela incapacidade do encantamento amoroso que faz nascer o dom da lucidez que, por sua vez, é a garantia de ler os fatos com sinceridade, sem rancores, sem apegos e sem desprestígios.”

Segundo o arcebispo, “esse mal precisa ser evitado no coração de todo discípulo e discípula de Jesus Cristo. É o vetor que explica no mundo da política, das instituições e das confissões religiosas, os desatinos dos que manipulam, dominam, tentam perpetuar-se no poder, prometem e não cumprem, usufruem e não privilegiam, de fato, os pobres e os que têm mais direitos e necessidades”.

Esta reflexão evangélica – explica Dom Walmor – “é oportuna, é como um farol que precisa projetar sua luminosidade sobre as mais diferentes situações da vida contemporânea, nas Igrejas, no Parlamento, nas instituições governamentais e outras”.

“Também na vida familiar e pessoal para se medir, com precisão, o quanto é indispensável e está faltando o dom da lucidez”, afirma.

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