MADRI, 26 Fev. 13 / 04:39 pm (ACI/EWTN Noticias).-
Mario Vargas Llosa, o prêmio Nobel de Literatura que se declara agnóstico e ferozmente oposto aos ensinamentos morais da Igreja, escreveu uma coluna para o mundo de fala espanhola na qual elogia o nível espiritual e intelectual de Bento XVI, e assinala que sua partida é uma perda para o mundo da cultura e do espírito.
"Não sei por que a renúncia de Bento XVI surpreendeu tanto; embora
tenha sido excepcional, não era imprevisível. Bastava vê-lo, frágil e
como extraviado em meio dessas multidões nas que sua função o obrigava a
inundar-se, fazendo esforços sobre-humanos para parecer o protagonista
desses espetáculos obviamente írritos a seu temperamento e vocação",
escreve Vargas Llosa na coluna sindicalizada pelo jornal espanhol El
País, principal representante do socialismo anticlerical espanhol.
O literato peruano assinala que o Papa Bento "refletia com
profundidade e originalidade, apoiado em uma enorme informação
teológica, filosófica, histórica e literária, adquirida na dezena de
línguas clássicas e modernas que dominava".
"Embora concebidos sempre dentro da ortodoxia cristã, mas com um
critério muito amplo, seus livros e encíclicas transbordavam
frequentemente o estritamente dogmático e continham novas e audazes
reflexões sobre os problemas morais, culturais e existenciais de nosso
tempo que leitores não crentes podiam ler com proveito e frequentemente
–me ocorreu– turbação", adiciona Vargas Llosa.
O prêmio Nobel de literatura assinala logo que Bento XVI esteve à
frente da Igreja em "um dos períodos mais difíceis que enfrentou o
cristianismo em seus mais de dois mil anos de história. A secularização
da sociedade avança a grande velocidade, sobretudo no Ocidente, cidadela
da Igreja até faz relativamente poucos decênios".
"Ninguém pode negar que Bento XVI tentou responder a estes
descomunais desafios com valentia e decisão, embora sem êxito. Em todas
suas tentativas fracassou, porque a cultura e a inteligência não são
suficientes para orientar-se no labirinto da política terrestre e
enfrentar o maquiavelismo dos interesses criados e os poderes factuais
no seio da Igreja".
Bento XVI, adiciona Vargas Llosa, "foi o primeiro Papa em pedir
perdão pelos abusos sexuais em colégios e seminários católicos, em
reunir-se com associações de vítimas e em convocar a primeira
conferência eclesial dedicada a receber o testemunho dos próprios
vexados e de estabelecer normas e regulamentos que evitassem a repetição
no futuro de semelhantes iniquidades".
Segundo o escritor peruano, o Papa Bento passou de ser um teólogo
"progressista" durante o Concílio Vaticano II a ser "um audaz adversário
da Teologia da Libertação e de toda forma de concessão em temas como a
ordenação de mulheres, o aborto, o matrimônio homossexual e, inclusive, o uso de preservativos".
"Os não crentes", assinala Vargas Llosa, "faríamos mal em festejar como uma vitória do progresso e da liberdade o fracasso de Joseph Ratzinger
no trono de São Pedro. Ele não só representava a tradição conservadora
da Igreja, mas também, sua melhor herança: a da alta e revolucionária
cultura clássica e renascentista que, não o esqueçamos, a Igreja
preservou e difundiu através de seus conventos, bibliotecas e
seminários".
A solidão de Bento XVI e "a sensação de impotência que parece havê-lo
rodeado nestes últimos anos", conclui o prêmio Nobel "é sem dúvida
fator primordial de sua renúncia, e um inquietante olhar do difícil que
está nossa época com tudo o que representa a vida espiritual, a preocupação pelos valores éticos e a vocação pela cultura e as ideias".
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