O salário do pecado é a morte

Fonte: CNBB
Na manhã do dia 8 de outubro de 2009, numa escola de Dourados, um aluno de 15 anos foi morto a tiros por outro jovem de 18 anos, diante de uma centena de colegas e professores que lanchavam no pátio do estabelecimento. Ele foi uma das 52 vítimas que foram assassinadas na cidade, em 2009. Dois dias depois, em Ponta Porã, enquanto eu conferia o sacramento da crisma a 110 candidatos na igreja matriz, o irmão de um deles era friamente assassinado em frente à própria casa.

Em todo o país, a violência está na ordem do dia. Cresceu tanto, que a ninguém mais impressiona – a não ser quando atinge o nosso lar. É uma guerra que se trava a céu aberto, em toda a parte. E, em sua imensa maioria, suas principais vítimas são jovens e adolescentes. Não importa se pobres ou ricos, brancos ou negros – ou até mesmo índios.

Psicólogos, pedagogos e sociólogos, lideranças políticas, religiosas e policiais se interrogam sobre os motivos dessa hecatombe que assola a maior parte de nossas cida-des.Para um policial da Guarda Municipal de Dourados, habituado a lidar com esses casos, a origem da violência, principalmente entre estudantes, está ligada à desestruturação famili-ar que cresce em toda a parte: «Tudo começa em casa. A falta de equilíbrio no relaciona-mento entre os membros da família influencia diretamente no comportamento dos filhos».

Aprofundando sua análise, o militar descobre outras causas. Dentre elas, o consumo de drogas, a ausência de limites, a substituição dos valores morais por interesses egoístas, o desinteresse pela educação dos filhos e a falta de apoio religioso. Para ele, são as situações pessoais e familiares de conflito não resolvidas que levam à violência.

De janeiro a setembro de 2009, a Guarda Municipal de Dourados recebeu 914 chamadas de diretores de 40 escolas solicitando ajuda. Em mais de 11% dos casos foi necessário fazer o boletim de ocorrência na delegacia. De 2008 a 2009, o registro de violência nas escolas de Dourados aumentou em 40%. Tanto é verdade que diminui cada vez mais, em todo o Brasil, os candidatos que optam pelo magistério e cresce o número de professores que optam pela aposentadoria antecipada.

Para não poucos pedagogos e sociólogos, a principal causa do comportamento agres-sivo e da propagação da violência entre os adolescentes é a omissão dos pais na educação dos filhos. Os adolescentes não têm limites porque os pais não sabem mandar ou proibir. Aliás, eles mesmos não se vigiam ou dominam. Assim, a escola tem que suprir a família e os professores assumir o papel de pais. Como se isso não bastasse, há pais que tomam sis-tematicamente a defesa do filho contra a escola toda vez que ele é corrigido ou censurado.

É esta também a opinião de um Promotor de Justiça de Dourados: «Disciplinar os filhos é necessário para uma boa formação, até mesmo com o emprego da vara e do cinto. É um direito da criança ser corrigida pelos pais. Esse papel não é da escola. É a família que deve impor limites e ensinar valores, tais como o respeito, o amor, a dignidade, a ética e a moral». Com a autoridade que a função lhe dá – atendendo, cada mês, aproximadamente 100 adolescentes infratores –, ele continua: «A maioria deles, ou a quase totalidade, vem de famílias desestruturadas. A meu ver, a culpa maior é dos pais que não educam seus filhos como se deve». Para ele, o problema da violência não foi ainda resolvido pelo descaso do Poder público e da própria sociedade: «A população não quer se envolver em questões co-mo essa, e os políticos e órgãos públicos não investem em ações concretas que visam pre-venir e combater a violência».
Apesar de não recorrer ao velho “sistema educativo” em que a vara, o cinto e o chinelo tinham um papel preponderante, o Papa Bento XVI não cansa de lembrar que o verdadeiro amor anda sempre unido à verdade. Separado da verdade, o amor não passa de camuflagem. Faz mais mal do que bem. É sinônimo de fraqueza e de capitulação. Mas a verdade sem amor nada consegue senão criar hipócritas e inimigos. Ninguém se torna melhor porque apanhou...

No fundo, toda violência, independente se ela acontece na família, na escola ou na sociedade em geral, tem uma única causa: a falta de amor. A tentação é substituí-lo por receitas que nascem dos sete vícios capitais e que, por isso mesmo, nada produzem senão aprofundar a frustração e a angústia – o campo mais fértil da violência. Não foi por nada que São Paulo, depois de lembrar que «o salário do pecado é a morte» (Rm 6,23), acres-centa: «Não vos iludais: de Deus não se zomba. O que alguém semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia no egoísmo, do egoísmo colherá a morte; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida» (Gl 6,7-8).

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