A Transfiguração

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Deus nos deu inteligência e perspicácia, mas nós, apegados à vidinha do dia-a-dia, não conseguimos enxergar além do nosso nariz. O homem consegue ir à lua e não vê o que é mais profundo, que está bem ao seu alcance e que é verdadeiro e eterno, que não o faz arriscar a vida, mas renová-la. E não é porque não temos capacidade. Um pouco é desinteresse, pois ficamos preocupados com o que é palpável, vantajoso; o que é mais cômodo, aquilo que não exige que abramos o coração, deixando a amor, a fé, a confiança entrar.


Os apóstolos conviveram com Jesus, ouviram a sua mensagem, assistiram a seus milagres, acompanharam-no cotidianamente, mas ainda não tinham compreendido a verdadeira dimensão da sua missão messiânica.

Querendo forçar o raciocínio deles, disse-lhes que, como os fariseus não O escutavam, eles também, os apóstolos, se quisessem, poderiam seguir outro mestre. E São Pedro responde: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna.”

Em outra ocasião, Ele pergunta a seus discípulos: “Quem vocês acham que eu sou?” E o mesmo São Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.”

Muito bom. Estavam reagindo. Mas, quando Ele disse que devia ir a Jerusalém para se submeter a sua Paixão, os apóstolos se revoltaram. Não concordaram, não compreenderam.

A Transfiguração de Cristo tem por finalidade justificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão: a subida à montanha, onde Ele se transfigurou, prepara a subida ao Calvário. “Cristo, cabeça da Igreja, manifesta o que o seu corpo contém e irradia nos sacramentos: a esperança da Glória”, nas palavras de São Paulo aos colossenses.

A presença de Moisés e Elias documenta o que a Lei e os Profetas já diziam, no Antigo Testamento sobre o Redentor. Ainda assim, São Pedro queria construir uma tenda para eles, sem ter a compreensão total do que estava presenciando.

Uma nuvem cobre os apóstolos, fazendo-os enxergar melhor, sob a ação do Espírito Santo. E uma voz ressoa para eles: “Este é o meu Filho muito amado. Escutem-no.”

Como no Batismo de Cristo, a Santíssima Trindade se manifestou. Foi então que os apóstolos compreenderam e acreditaram. Eles tiveram, por um momento, um vislumbre do Céu.

Somos todos nós lerdos no pensar e no agir. É preciso que se coloquem as verdades no nosso nariz para que possamos pensar em compreender. Somos como os apóstolos. Somos ainda piores, porque eles eram homens rudes, sem muita instrução. E nós, mesmo quando estudamos acerca da vida e do mundo, mesmo quando somos muito “instruídos”, ainda necessitamos que o Senhor se transfigure ante nós, para crermos na sua missão salvífica.

Nesses dias estou peregrinando na cidade eterna de Roma, visitando os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo e fazendo a experiência quaresmal de peregrinação e de penitência. Faço esta peregrinação em agradecimento a Deus pela graça de ter servido com destemor e dedicação exclusiva às Igrejas de Luz e de Juiz de Fora. Aqui rezo por você que me acompanha semanalmente na partilha destes modestos textos. O que me anima ainda a escrever é partilhar a existência vivida na busca do Transfigurado. O testemunho dos evangelistas sobre a transfiguração de Cristo (e os sinóticos documentam os fatos) deve levar-nos a, não só crer, mas agir, como conseqüência desta crença, amando-nos uns aos outros, perdoando os tropeços de cada um, ajudando-nos mutuamente a se levantar, combatendo a ganância, a violência, o egoísmo, para que consigamos construir um mundo novo, transfigurado, cheio de luz, paz, igualdade, justiça, amor. Sem dúvida este será um vislumbre do Céu.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.

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