Maria e a Palavra

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba - PB

Por que os cristãos católicos dedicam o mês de maio a Maria? Assim como os filhos elogiam sua mãe primorosa pelas virtudes que pratica, Maria é enaltecida pela sublime missão desempenhada na vida de Jesus Cristo, incumbida de dar continuidade na vida dos filhos e filhas de Deus.
Maria é uma referência de amor fiel a Cristo, nosso único Senhor e Salvador. Nela a Palavra se fez carne (Jo 1,14). A humanidade é comum a ambos, o filho unigênito de Deus e seu filho, porquanto toma a carne e o sangue da mulher bendita entre todas as criaturas. Maria se faz serva, discípula, aprendiz, seguidora daquele que ela gerou em seu seio puríssimo.
A virgindade fecunda de Maria significa a sua disponibilidade total e incondicional a toda ação humana, permeada da graça divina, tal que se cumpra a vontade de Deus e se manifestem as maravilhas do seu amor àqueles que primeiramente são por Ele amados.
Maria é admirada e seu exemplo é seguido pelos cristãos porque ela é a primeira a acolher a Palavra e praticá-la, convicta de que as grandes transformações começam em nós e no mundo quando deixamos Deus agir. Ao tempo que acolhe a Palavra e a guarda em seu coração, também cumpre tudo o que agrada ao Senhor.
Cumprir e fazer com que todos cumpram a vontade de Deus significa que Ele nos determina a santificação da vida, dos relacionamentos humanos e da história. A contemplação da Palavra, tal como Maria a contempla, evita-nos o risco de nos fixarmos nas exterioridades. A Palavra de Deus nos coloca para dentro do mistério do seu amor, levando-nos a compreender o significado da vida.
A oração e o discernimento da Palavra à luz do exemplo de Maria evita um perigo ainda pior: a busca de nós mesmos, um intimismo que se revela falso e estéril, um puro ato de egoísmo justificando nosso próprio ego. Ora, a Palavra nos converte e nos compromete com a obra de transformação da realidade, começando pela conversão do nosso coração e de nosso modo de pensar e agir.
Maria participou efetivamente da vida e do ministério salvífico de Cristo. Segui-o de perto, não de forma circunstancial ou passiva e, sim, como colaboradora de sua missão que culminou na rejeição e morte de cruz e na superação do pecado e da morte, a ressurreição. Maria é fiel à Palavra encarnada, Jesus Cristo, crucificado e redivivo.
A fidelidade amorosa do “sim” de Maria a insere no âmago mais profundo do mistério da redenção, revelado palatinamente ao longo da história, no transcurso dos séculos, até que Cristo se manifeste plenamente na sua vinda definitiva ao mundo.
Maria estaria longe de representar uma temática transversal ou supletiva no mistério de Cristo. Maria está vivamente inserida no mistério da redenção, como ícone da Igreja, da humanidade redimida, fiel ao dom que recebe do Senhor, correspondendo proativamente, grata e vigilante: eis aqui a serva, faça-se em mim segundo a tua Palavra (Lc. 1, 38).

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