A Virgem Anunciada - Espiritualidade




Vemos nesta obra de arte uma jovem com túnica vermelha e um véu muito tênue e suave em azul sobre sua cabeça, que cobre inteiramente os seus cabelos. Com a mão esquerda ajusta o véu e a mão direita tem a palma suavemente erguida. Seu olhar vago parece atraído por um ponto fixo, não visível fisicamente. Seu rosto é de uma impressionante limpidez, clareza e pureza.

Ela parece estar sentada ou acabou de erguer-se. Há uma mesa diante de si com um suporte de livros em madeira. Sobre o suporte, um livro aberto com duas páginas ainda a abrir-se totalmente.

A luz que vem do noroeste a sudeste iluminando o véu, o rosto, o pescoço, mãos, mesa, o suporte e o livro. O fundo é totalmente escuro.

Interpretação

Toda a obra está baseada em Lc 1,26- 38. A jovem que vemos é Maria de Nazaré e o nome da obra se refere ao mistério da Anunciação, “A Anunciada”, ou seja, Antonello a representou justo no momento da anunciação. A túnica vermelha representa a humanidade, e o véu azul, a divindade.

Maria está meditando nas Escrituras. A representação da Bíblia e do suporte vieram do século XVI, pois na época de Nossa Senhora os livros sagrados eram em papiros ou pergaminhos.

A aparição do anjo se dá justamente quando ela ora com a Palavra. A Bíblia não diz especificamente como se deu a aparição. A Bíblia está aberta com duas páginas que ainda vão virar. A página da história vai virar com o seu sim.

Nesta obra, Antonello enfatiza a intervenção do Anjo em visão intelectiva. Este tipo de visão só pode vir de Deus, pois age no intelecto (uma área nobre do homem que não se corrompeu com o pecado). Já a visão imaginativa e a física podem vir de Deus, do próprio homem ou do demônio.

O seu olhar vago está centralizado num ponto fixo que se situa não fora de si, mas em seu interior. Os homens veem as aparências, Deus vê o interior do homem. Tudo acontece no interior.

E é no interior que ela vê e escuta o anjo: “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ela ficou intrigada com a saudação, recolhe o véu para melhor captar ao que tudo indica, não uma voz exterior, mas uma locução interior.

“Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.”

Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?”

Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.”

Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo afastou-se dela.

Nesse momento, vemos o Espírito Santo a iluminá-la clareando o véu, pois a sombra do Altíssimo é luz.

A palma de sua mão direita se ergue suavemente num sinal de fé assumindo a graça, pois para Deus nada é impossível.

A cor azul do véu significa a divindade que cobre a sua humanidade representada pelo vermelho da túnica.

O azul e o vermelho nesta tonalidade indicam também a realeza. Maria é livre enquanto serva do Senhor e também dos homens, pois logo em seguida, viaja às pressas para servir sua prima Isabel. No reino de Deus quem serve reina.

A ausência de qualquer paisagem no fundo escuro nos mostra que o mundo estava em densas trevas quando surge uma luz – “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz.” (Mt 4,16) – Antonello não pinta nada além do fundamental para que não nos distraiamos, pois o essencial está no interior do homem.

A luz é a da graça, que quando encontra um sim na humanidade é irradiada a todos os homens, pois uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro.

Maria ao receber o anúncio do Pai estava em oração, assim como Jesus também estava ao receber o batismo de João e ao ouvir a voz do Pai (Cf. Lc 3,21-22): “Tu és o meu Filho, Eu hoje te gerei”.

Te peço Senhor a graça de permanecer na tua palavra em amizade contigo, acolhendo o teu amor e a minha missão pessoal qual a tua Mãe para que no meu sim, o teu reino aconteça no meu interior e exterior.

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!

Cassiano Rocha Azevedo
Missionário da Com. Católica Shalom

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