VATICANO, 06 Ago. 13 / 03:52 pm (ACI/EWTN Noticias).-
Em sua mensagem pelo 87º Dia Mundial das Missões divulgada hoje e que se
celebra em 20 de outubro, o Papa Francisco afirma que todo batizado tem
o dever de anunciar o Evangelho, Cristo, mas este anúncio não pode
fazer-se sem a Igreja.
O Santo Padre explica também que para este anúncio a pessoa deve ser
capaz de aceitar a fé e deve ter a coragem de pôr sua confiança em Deus.
As
origens deste Dia remontam ao ano 1926, quando a Obra da Propagação da
Fé, por sugestão do Círculo missionário do Seminário da cidade italiana
de Sassari, propôs ao Papa Pio XI convocar um dia anual a favor da
atividade missionária da Igreja universal. A petição foi acolhida
favoravelmente e no ano seguinte (1927) foi celebrado o primeiro "Dia
Mundial das Missões para a propagação da fé", estabelecendo que este
seja comemorado cada penúltimo domingo de outubro, tradicionalmente
reconhecido como mês missionário por excelência.
A seguir a íntegra da mensagem do Papa Francisco:
"Queridos irmãos e irmãs,
Este
ano celebramos o Dia Mundial das Missões enquanto se está concluindo o
Ano da Fé, ocasião importante para reforçar a nossa amizade com o Senhor
e o nosso caminho como Igreja que anuncia com coragem o Evangelho.
Nesta perspectiva, gostaria de propor algumas reflexões.
1. A fé é
um dom precioso de Deus, o qual abre a nossa mente para que possamos
conhecê-Lo e amá-Lo. Ele quer entrar em relação conosco para fazer-nos
participar da sua própria vida
e tornar a nossa vida mais cheia de significado, melhor, mais bela.
Deus nos ama! A fé, porém, pede para ser acolhida, pede, isso é, a nossa
resposta pessoal, a coragem de confiar-nos a Deus, de viver o seu amor,
gratos pela sua infinita misericórdia.
É um dom, então, que não é
reservado a poucos, mas que vem oferecido com generosidade. Todos
deveriam poder experimentar a alegria de sentir-se amado por Deus, a
alegria da salvação! E é um dom que não se pode ter só para si mesmo,
mas que deve ser compartilhado. Se nós queremos tê-lo somente para nós
mesmos, nos tornaremos cristãos isolados, estéreis e doentes.
O
anúncio do Evangelho faz parte do ser discípulos de Cristo e é um
empenho constante que anima toda a vida da Igreja. "O zelo missionário é
um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial". Toda
comunidade é "adulta" quando professa a fé, celebra-a com alegria na
liturgia, vive a caridade e anuncia sem cessar a Palavra de Deus, saindo
do próprio recinto para levá-la também às "periferias", sobretudo a
quem não teve ainda a oportunidade de conhecer Cristo.
A solidez
da nossa fé, em nível pessoal e comunitário, é medida também pela
capacidade de comunicá-la aos outros, de difundi-la, de vivê-la na
caridade, de testemunhá-la a quantos nos encontram e partilham conosco o
caminho da vida.
2. O Ano da Fé, a cinquenta anos do início do
Concílio Vaticano II, é de estímulo para que toda a Igreja tenha uma
renovada consciência da sua presença no mundo contemporâneo, da sua
missão entre os povos e as nações. A missionariedade não é somente uma
questão de territórios geográficos, mas de povos, de culturas e de
indivíduos, propriamente porque os "confins" da fé não atravessam
somente lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e de
cada mulher.
O Concílio Vaticano II destacou de modo especial
como a tarefa missionária, a tarefa de alargar os confins da fé, seja
própria de cada batizado e de todas as comunidades cristãs: "Porque o
povo de Deus vive nas comunidades, especialmente naquelas diocesanas e
paroquiais, e nessas de todo modo aparece de forma visível, cabe também a
estas comunidades dar testemunho de Cristo diante das nações".
Toda
comunidade é então interpelada e convidada a fazer próprio o mandato
confiado por Jesus aos Apóstolos de ser suas "testemunhas em Jerusalém,
em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra", não como um
aspecto secundário da vida cristã, mas como um aspecto essencial: todos
somos enviados nas estradas do mundo para caminhar com os irmãos,
professando e testemunhando a nossa fé em Cristo e fazendo-nos
anunciadores do seu Evangelho.
Convido os Bispos,
os Presbíteros, os Conselhos presbiterais e pastorais, toda pessoa e
grupos responsáveis na Igreja a dar ênfase à dimensão missionária nos
programas pastorais e formativos, sentindo que o próprio compromisso
apostólico não é completo se não contém o propósito de "dar testemunho
de Cristo diante das nações", diante de todos os povos. A
missionariedade não é somente uma dimensão programática na vida cristã,
mas também uma dimensão paradigmática que abrange todos os aspectos da
vida cristã.
3. Muitas vezes a obra de evangelização encontra
obstáculos não somente em seu lado externo, mas dentro da própria
comunidade eclesial. Às vezes são frágeis o fervor, a alegria, a
coragem, a esperança no anunciar a todos a Mensagem de Cristo e no
ajudar os homens de nosso tempo a encontrá-Lo. Às vezes se pensa ainda
que levar a verdade do Evangelho seja fazer violência à liberdade.
Paulo
VI tem palavras iluminadoras quanto a isso: "Seria…um erro impor
qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a esta
consciência a verdade evangélica e a salvação de Jesus Cristo com plena
clareza e no respeito absoluto das livres opiniões que essa fará…é uma
homenagem a esta liberdade".
Devemos ter sempre a coragem e a
alegria de propor, com respeito, o encontro com Cristo, de fazer-nos
portadores do seu Evangelho. Jesus veio em meio a nós para indicar o
caminho de salvação, e confiou também a nós a missão de fazê-lo conhecer
a todos, até os confins da terra. Muitas vezes vemos que são a
violência, a mentira, o erro a serem colocados em destaque e propostos.
É
urgente fazer resplandecer no nosso tempo a vida boa do Evangelho com o
anúncio e o testemunho, e isto a partir do interior da própria Igreja.
Porque, nesta perspectiva, é importante não esquecer nunca um princípio
fundamental para todo evangelizador: não se pode anunciar Cristo sem a
Igreja. Evangelizar não é nunca um ato isolado, privado, mas sempre
eclesial.
Paulo VI escrevia que "quando o mais desconhecido
pregador, missionário, catequista ou pastor anuncia o Evangelho, reúne a
comunidade, transmite a fé, administra um Sacramento, mesmo se está
sozinho, cumpre um ato de Igreja". Ele não age "por uma missão atribuída
a si mesmo, nem em força de uma inspiração pessoal, mas em união com a
missão da Igreja e em nome dessa" (ibidem). E isto dá força à missão e
faz cada missionário e evangelizador sentir que não está nunca sozinho,
mas faz parte de um único Corpo animado pelo Espírito Santo.
4. Na
nossa época, a mobilidade difusa e a facilidade de comunicação através
das novas mídias têm fundido entre eles os povos, os conhecimentos, as
experiências. Por motivo de trabalho, famílias inteiras se deslocam de
um continente a outro; as trocas profissionais e culturais, então, o
turismo e fenômenos análogos empurram a um amplo movimento de pessoas.
Às
vezes se torna difícil mesmo para as comunidades paroquiais conhecer de
modo seguro e aprofundado quem está de passagem ou quem vive
estavelmente no território. Além disso, em áreas sempre mais amplas das
regiões tradicionalmente cristãs cresce o número daqueles que são
estranhos à fé, indiferentes à dimensão religiosa ou animados por outras
crenças. Não raramente, então, alguns batizados fazem escolhas de vida
que lhes conduzem para longe da fé, tornando-se assim necessitados de
uma "nova evangelização".
A tudo isto se soma o fato de que ainda
uma ampla parte da humanidade não foi alcançada pela boa notícia de
Jesus Cristo. Vivemos, então, em um momento de crise que toca vários
setores da existência, não somente aquele da economia, das finanças, da
segurança alimentar, do ambiente, mas também aquele do sentido profundo
da vida e dos valores fundamentais que a animam.
Também a
convivência humana é marcada por tensões e conflitos que provocam
insegurança e cansaço de encontrar o caminho para uma paz estável. Nesta
complexa situação, onde o horizonte do presente e do futuro parecem
caminhos de nuvens ameaçadoras, torna-se ainda mais urgente levar com
coragem em toda realidade o Evangelho de Cristo, que é anúncio de
esperança, de reconciliação, de comunhão, anúncio da proximidade de
Deus, da sua misericórdia, da sua salvação, anúncio de que o poder de
amor de Deus é capaz de vencer as trevas do mal e guiar no caminho do
bem.
O homem do nosso tempo tem necessidade de uma luz segura que
ilumina a sua estrada e que somente o encontro com Cristo pode dar.
Levemos a este mundo, com o nosso testemunho, com amor, a esperança
doada pela fé! A missionariedade da Igreja não é proselitismo, mas sim
testemunho de vida que ilumina o caminho, que leva esperança e amor. A
Igreja – repito mais uma vez – não é uma organização assistencial, uma
empresa, uma ONG, mas é uma comunidade de pessoas, animadas pela ação do
Espírito Santo, que têm vivido e vivem a maravilha do encontro com
Jesus Cristo e desejam partilhar esta experiência de profunda alegria,
partilhar esta Mensagem de salvação que o Senhor nos trouxe. É
propriamente o Espírito Santo que guia a Igreja neste caminho.
5.
Gostaria de encorajar todos a fazerem-se portadores da boa notícia de
Cristo e sou grato de modo particular aos missionários e as
missionárias, aos presbíteros fidei donum, aos religiosos e às
religiosas, aos fiéis leigos – sempre mais numerosos – que acolhendo o
chamado do Senhor, deixam a própria pátria para servir o Evangelho em
terras e culturas diferentes. Mas gostaria ainda de destacar como as
próprias jovens Igrejas estão se empenhando generosamente no envio de
missionários às Igrejas que se encontram em dificuldade – não raramente
Igrejas de antigo cristianismo – levando assim o frescor e o entusiasmo
com o qual vivem a fé que renova a vida e doa esperança.
Viver
este alento universal, respondendo ao mandato de Jesus "ide, portanto, e
fazei discípulos todos os povos" é uma riqueza para toda Igreja
particular, para toda comunidade, e doar missionários e missionárias não
é nunca uma perda, mas um ganho. Faço apelo a quantos percebem tal
chamado a corresponder generosamente à voz do Espírito, segundo o
próprio estado de vida, e a não ter medo de ser generoso com o Senhor.
Convido
também os Bispos, as famílias religiosas, as comunidades e todas as
agregações cristãs a apoiar, com clarividência e atento discernimento, o
chamado missionário ad gentes e de leigos para reforçar a comunidade
cristã. E esta deveria ser uma atenção presente também entre as Igrejas
que fazem parte de uma mesma Conferência Episcopal ou de uma Região: é
importante que as Igrejas mais ricas de vocações ajudem com generosidade
aquelas que sofrem pela sua escassez.
Junto a isso exorto os
missionários e as missionárias, especialmente os presbíteros fidei
donum, e os leigos a viver com alegria o seu precioso serviço nas
Igrejas às quais são enviados, e a levar a sua alegria e a sua
experiência às Igrejas da qual partiram, recordando como Paulo e Barnabé
ao término da sua primeira viagem missionária "referindo tudo aquilo
que Deus tinha feito com eles e como tinha aberto aos gentios a porta da
fé". Esses podem transformar um caminho para uma espécie de
"restituição" da fé, levando o frescor das jovens Igrejas, a fim de que
as Igrejas de antigo cristianismo reencontrem o entusiasmo e a alegria
de partilhar a fé em uma troca que é enriquecimento recíproco no caminho
de seguir o Senhor.
A solicitude para com todas as Igrejas, que o
Bispo de Roma partilha com os irmãos Bispos, encontra uma importante
atuação no compromisso das Pontifícias Obras Missionárias, que têm o
foco de animar e aprofundar a consciência missionária de cada batizado e
de cada comunidade, seja chamando a atenção para a necessidade de uma
mais profunda formação missionária de todo Povo de Deus, seja
alimentando a sensibilidade das Comunidades cristãs a oferecer a sua
ajuda em favor da difusão do Evangelho no mundo.
Um pensamento
enfim dirijo aos cristãos que, em várias partes do mundo, encontram-se
em dificuldade no professar abertamente a própria fé e no ver
reconhecido o direito de vivê-la dignamente. São nossos irmãos e irmãs,
testemunhas corajosas – ainda mais numerosos que os mártires nos
primeiros séculos – que suportam com perseverança apostólica as várias
formas atuais de perseguição. Não poucos arriscam mesmo a vida para
permanecer fiéis ao Evangelho de Cristo. Desejo assegurar que sou
próximo com a oração
às pessoas, às famílias e às comunidades que sofrem violência e
intolerância e repito as palavras consoladoras de Jesus: ‘Coragem, eu
venci o mundo’.
Bento XVI
exortava: "A Palavra do Senhor se propague e seja glorificada": possa
este Ano da Fé tornar sempre mais equilibrado o relacionamento com
Cristo Senhor, porque somente Nele está a certeza para olhar para o
futuro e a garantia de um amor autêntico e duradouro". É o meu desejo
para o Dia Mundial das Missões deste ano. Abençoo de coração os
missionários e as missionárias e todos aqueles que acompanham e apoiam
este compromisso fundamental da Igreja a fim de que o anúncio do
Evangelho possa ecoar em todos os cantos da terra, e nós, ministros do
Evangelho e missionários, experimentemos "a doce e confortante alegria
de evangelizar".
Do Vaticano, 19 de maio de 2013, Solenidade de Pentecostes
Francisco".
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